O Auto conhecimento é a chave para a conquista do sucesso.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Leitura interessante

Minha rotina matinal, é ler o jornal saboreando um delicioso café! As vezes deixo meus sensores escolherem o que ler, outras sigo religiosamente da primeira à última página com persistência, tipo, tarefa de hoje : ler todo o jornal. Nesta semana, ainda envolvida com a reforma da cozinha aqui de casa, li "por cima"! Trabalhar junto com o pessoal na obra, demandou horário e comprometimento. Por isso hoje, peguei todos os jornais desta semana e fui dar uma reciclada para posteriormente serem usados na casa. Encontrei um artigo não lido que quero partilhar contigo, que lês este blog.- *Arábia Saudita quer planejar uma cidade só de mulheres* - Uma cidade industrial para mulheres trabalhadoras. A idéia é permitir mais mulheres conquistando independência financeira, mantendo ao mesmo tempo a segregação de sexos, natural à cultura daquele povo. Costumes tribais lá, constituem uma sociedade ultraconservadora, e o trabalho misto, é pequeno. Solução encontrada? Construir cidades femininas. Então a proposta está de acordo com as instruções do governo, criação de mais empregos, capacitando suas mulheres para desempenharem um papel mais importante no desenvolvimento do país. A princípio fiquei triste, mas logo os cinquenta e oito anos foram mais fortes e a maturidade adquirida nestes anos, buscou a consciência global deste povo. Não deixa de ser um avanço. Para as mulheres de lá, talvez tenha sido motivo até de comemoração. Nascida em um país abençoado, como é o meu Brasil, vivendo uma democracia em evolução, devo felicitar as mulheres da Arábia Saudita, passo a passo elas vão conseguir terem o respeito-liberdade que, mulher=máquina da vida, merece!Como hoje é sexta-feira, deixo esta notícia para pensares na tua realidade como mulher, inserida no contexto que CRIASTES para ti. Que benção maravilhosa a liberdade comportamental! Pensa nisso,sejas homem ou mulher, faz uma análise da tua sociedade. E coloca em uma balança os pontos positivos e negativos de tua realidade! Torço para que vivas em um país tão abençoado como meu Brasil, aqui,as ancestrais tiveram o cuidado de desenvolver a igualdade de ação, não é a toa que temos uma governante mulher! Bom fim de semana!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O mundo ao meu redor

Cá estou eu, em meu mundo particular, expectadora deste momento tão radical, que a sociedade humana está vivendo, quando, bruscamente sou chamada... ajuda, ajuda, ajuda! Te confesso que um cansaço existencial enorme invade minhas entranhas. Minha cota, a que eu entendo é óbvio, está esgotada. Vim morar aqui, no Edelweis, justamente convicta desta certeza. Missão cumprida! Na real, paciência, é o que eu esgotei, na lida com seres humanos. MAS, sempre tem este mas, o pedido de ajuda chegou diferente, com códigos expressivos. É o suficiente para mim. Ela chegou, vou dar um nome, Maria, com o olhar ansioso, angustiado à minha frente! Atenta busquei em sua áura nózinhos que me dizem onde está o problema. Nenhum! Interessante! Abri minha visão holística, para identificar possíveis acompanhantes espirituais (ou seres de outras dimenssões), nada! Redimensionei meu físico, andei dentro do corpo dela, cérebro, fígado, pulmões, procurando dependência química, nada! Bom, com o tambor fiz sons xamânicos, com o sino chamei os elementais, respirando profundamente, convidei todos meus ancestrais, para aprendermos juntos! A nova raça está ativa! As crianças índigo cresceram, e Maria está com vinte e nove anos. Tudo que possuo como referência é nada, no trato com ela. Palavras chaves... ansiedade e angústia. Vou até minha horta, colho com profusão tres ervas sagradas...alecrim, poejo e mirra. Volto à Maria,faço com as ervas uma cama, onde peço que ela deite. Seu corpo entra em repouso, lágrimas vertem de seus lindos olhos cor de mel, estou atenta. Entôo o canto de minhas antepassadas em voz baixa. Então, uma luz índigo envolve o corpo dela. Ela chegou aqui com esta luz, só estava "entupida". Logo expandiu, cada partícula do corpo de Maria ficou inundado de luz índigo. Quando sua áura ficou densa de luz, tudo se acomodou nela. Seus olhos abertos, procuraram a mim. Infantilmente ela pega minha mão e beija com gratidão. E vai embora, deixando em mim, o compromisso de poder voltar. Calçou as sandálias caríssimas, pegou a bolsa de marca, entrou no carro do ano e com o ronronar do motor, foi embora. Voltei à minha sala, deitei onde ela estivera deitada e pedi entendimento. Ao meu redor, ancestrais à esquerda, seres futuristas à direita. Mentalmente eles falam comigo! Tão simples o que está acontecendo... as crianças índigo cresceram, estão aí! Correndo atrás de ordens sociais e materialistas. Nem um por cento delas, está evoluindo e realizando sua missão. Involução sem noção. Ansiedade...o gasto em valores tortos, o ganho na competição. Angustia...nada nutre esta geração. Estão vivendo sob moldes de comportamento ultrapassados. E estão aqui para tornar sutil a energia humana, e está acontecendo exatamente o contrário. Respiro profundamente, agora para aliviar a depressão que ficou em meu físico. Agradeço a oportunidade do aprendizado; as energias presentes; a vinda de Maria aqui! E cá estou,agora contigo, expandindo esta realidade. É minha parte no contexto. Estou velha. O mundo está em tuas mãos! Te peço, com humildade, olha o mundo ao teu redor... a vida aqui é tão curta! Faz por favor tua parte. Com o honorável rasgado, estou fazendo a minha.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Jacira, Nakeba e Sofia

Na primeira noite que Jacira passa no galpão, Nakeba está atenta, cuidando da índia. Algo estranho e ao mesmo tempo familiar, que ela ainda não consegue identificar. O olhar alucinado e perdido, que ficara no navio, quando se sentiu enlouquecer ao ser tratada como bicho, está agora em Jacira. Lembra de si, ao pisar em terra, sem identificação alguma daquela guerreira que embarcara nele. Lembra dos cuidados de Sofia, que a haviam trazido de volta, sentindo que agora é sua vez de ajudar esta mulher, deitada na cama improvisada. A posição dela é de uma criança, os joelhos dobrados,junto ao corpo, em sono, inerte, sem qualquer energia. Sua memória busca as canções de Orixás, que cantava com sua tribo, ao redor da fogueira! Com voz mansa, canta baixinho, sentindo um arrepio tomar conta de seu corpo. Desde que saíra da África, esta sensação não fôra mais sentida! Em alerta, ela continua a cantar. Vê então um ser estranho se materializar ao lado da cama...é de um velho índio, o corpo coberto com penas de pássaros de todas as cores. Ele parece não ver Nakeba. Sacudindo um chocalho começa a dançar batendo os pés no chão. Ela não entende o que ele diz, mas o canto é forte e o ritmo aumenta aos poucos. Tres índias velhas, surgem ao lado dele...nas mãos ervas de cheiro forte! Uma delas começa a esfregar as ervas na cabeça , a outra no peito e a terceira na barriga de Jacira! Viram de bruços o corpo dela, repetindo o ritual. Agora são os quatro índios que cantam. O ritmo acelerado vai diminuindo aos poucos, até ficar um murmúrio. O corpo dela é virado de volta, como estava antes. A que parece ser a mais velha, deita seu corpo sobre a índia que dorme, em seguida as outras duas, fazem o mesmo. Os tres corpos se fundem com o corpo de Jacira, que começa a tremer muito. Nakeba então começa a entoar o canto da cura, chamando seus Orixás. A figura do velho índio vai sumindo até desaparecer totalmente. O corpo sobre a cama, começa a suar, quando Jacira abre os olhos. Grossas lágrimas vertem como uma cachoeira de seus olhos. O corpo é sacudido por soluços. Nakeba deita na cama, abraçando com carinho o corpo dela. Respira forte, fazendo barulho, até sentir que a índia acompanha sua respiração. O choro passa, as lágrimas secam. As duas adormecem abraçadas! Um sono profundo embala os sonhos de Nakeba e Jacira. O sonho de Nakeba é doce, ela está em sua amada África. O de Jacira é de nutrição. Ela está nos braços de sua avó, que nina com carinho sua neta, herdeira da tradição de seu povo. E é assim que Sofia encontra as duas, quando, no dia seguinte abre a grande e pesada porta do galpão.

sábado, 25 de agosto de 2012

Reforma

Estou reformando a cozinha aqui de casa, como ajudante de obras, sou a que faz o rejunte,dos azulejos e acabamento. Está ficando lindo, mas meus dedos estão "endurecidos"! Segunda-feira retorno com novo capítulo da Saga de Sofia, Jacira e Nakeba. Até lá! Bom fim de semana para ti! Bom descanso!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Cadê o inverno?

Aqui, no Rio Grande do Sul, onde moro, cresci vivendo um inverno frio, gelado! Lembro que quando estudava em Marau, pela manhã ao sair para a escola, minha mãe forrava com jornal as congas azul marinho, que calçávamos. E quando no caminho , a geada estalava sob nossos pés eu amava enxergar a trilha que minhas pegadas deixavam para trás! Vivi isso, neve que chegamos a fazer um boneco, no pátio da casa onde morávamos, vou colocar a foto para veres. Hoje ao levantar, após ter degustado café e lido minha zero hora, borboletas e fadas chamaram minha atenção, com seu vôo gracioso ao redor da mesa, onde eu estava a começar a fazer as palavras cruzadas do jornal, meu ritual diário. Entrei na sintonia destes seres divinos, ok, entendi. Peguei a máquina fotográfica, e fui andando pelo terreno e fotografando flores, que estarão editadas aqui, logo mais. Estava em *encanto*, fazendo isso, quando um papel caiu aos meus pés (trazido pela brisa suave soprada pelas fadas), uma data, a de ontem. Minha mente treinada para interpretar com agilidade os códigos ao meu redor, começa o exercício! LOUCURA, a natureza enlouqueceu? Primeiro pensamento... Eu estou louca? Não existem fadas só borboletas? Desliguei a máquina fotográfica e comecei a dançar uma música que fala da loucura, do controle que leva à loucura. Eu sou minha heroína, eu navego feliz em meu mundo! Mas o que é mesmo que a natureza está a falar? Quatro estações no mesmo dia, calor de trinta graus no mês de agosto, flores pujantes no inverno!!!Paro de dançar quando meu físico de cinquenta e oito anos dá o basta! Está certo, Mãe Natureza querida, sempre mostrando os sinais, para uma humanidade que apressada, não tem tempo para reparar neles. Está certo! Quatro estações em um dia, preciso acelerar a mutação de meu corpo, adaptar este abençoado físico para navegar neste momento de mudanças. Grata Mãe querida, sou parceira! Aqui, neste micro ambiente que mantenho com zêlo,trabalho e fé infinita em ti, expando agora, neste momento para quem ler este blog esta luz do arco-íris que está em mim!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Te liga

Como estão tuas ferramentas de trabalho? ESTE É O ENSINAMENTO DE AGOSTO, parece simples? e se agora, neste instante precisares dela, estão contigo? Estão prontas para uso? Emprestastes alguma e não sabes onde ela anda? Imaginas estares em uma guerra e é chegado o momento de desembainhar a espada... ela sai da bainha com facilidade? ela está enferrujada? o fio da lâmina está a contento (tipo à prova do fio de cabelo)? Não me diz que estás sem tua espada... Agosto traz o ensinamento da responsabilidade com os instrumentos de nosso trabalho. Sejamos dentistas, advogadas(os), garis ou bruxas(os). O material tem que estar SEMPRE PRONTO PARA USO. Portanto vai lá, revisa, está tudo em ordem? Perfeito porque logo logo vais precisar deles. Algum problema? Está faltando um pequeno, mínimo cuidado? Vamos lá, corre, deixa tudo em ordem! Agora sim, estamos preparadas(os)! Não seremos pêgas(os) de surpresa! Até amanhã!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ano 2012

Estamos no mês de agosto de 2012! Temos ainda quatro meses, para entender, aprender e sobreviver com sanidade à este desafio enorme que é viver enfrentando tal tsunami. Religiões e filosofias vem falando há muito tempo do que acontecerá com a humanidade, o planeta e até nosso sistema solar. Mas o que seria previsto como uma catástrofe na natureza, está todo concentrado na evolução humana. Já percebestes que estamos vivendo um tempo SEM ÍDOLOS? SEM MESTRES? SEM CAMINHOS? À revelia e porque? com humildade partilho contigo uma serena convicção... Valores individuais somados à ética comportamental, identificação de qual o papel no contexto, e principalmente entender o quão solitário é este momento. Eu, desde menina, sabia, mesmo sem lógica, que a vida havia se tornado uma grande ilusão. Procurei juntar ao meu redor, construtores, como o pai de meus filhos. E hoje, conseguimos sermos dois em um (eu e ele) seis em um (eu, ele e nossos quatro filhos), mesmo que este um seja básico individual. Sinto que a solidão vivida aí fora, é que alucina todo mundo, sendo que todos querem a qualquer preço, mascarar isso. Então, sendo sólida nesta passagem, convicta de valores reais, tipo quando minha filha mais velha fez quinze anos eu fiz um lindo bolo para ela, era o que podíamos dar, sem culpa,família presente em esperança de um mundo melhor. Foi nosso presente à ela. Não conseguimos pagar faculdade à nossos filhos, os quatro fizeram supletivo, não pagaríamos jamais um estudo hipócrita como era na época. São os quatro, indivíduos fortes, instigantes e aprendendo o autoconhecimento SEMPRE. Então, quero falar com carinho para ti, esteja alerta. Está chovendo? toma um banho na chuva! É noite? espia o céu! anda descalça(o) na terra! Faz um foguinho no chão e cozinha arroz com cebola e come com queijo ralado. Conversa com teus filhos, com teus pais. Respeita as amizades, aceitando cada pessoa como ela é. Não queira colher maçãs de uma bananeira! Baixa as guardas. Vai dar uma caminhada em teu bairro. Cumprimenta teu vizinho. Respira o ar de tua cidade. Vive o dia de hoje como se fosse o último dia da humanidade. Abre tua mente para entender que fazemos parte de algo maior! E principalmente entendas que à revelia de tua vontade, tudo segue como um organograma muito bem desenhado pelo ser maluco que bolou tudo isso. Isto é 2012... te situa, respira fundo, tenha ética e sobreviva!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Despedida que dói

Hoje uma irmã minha, muito querida, do além mar, está vivendo um dia muito triste! Seu amigo querido, companheiro de tantos e tantos anos, morreu. Velhinho, precisou receber a "injeção do sono eterno"! Ele era responsável e guardião de minha irmã. Ele, CODI, me ensinou , paciente e com um olhar transcedental, a amar os cães! Quando atravessei o Atlântico e vi que onde ficaria teria que conviver com cachorros, não peguei o avião de volta por detalhes. E assim foi, a princípio "aturando" o som de seu latido, o fucinho a cheirar minhas pernas, e a irreverência de me tirar da poltrona "dele" onde eu sentava distraida. Dobrou minha resistência com aqueles olhos impertinentes, inquisidores e profundamente amorosos. Não me entreguei assim fácil, nem pensar! E toda a vez que fui ver minha irmã,durante estes anos todos que nos encontramos, lá estava ele, podes acreditar! Reconhecendo minha pessoa, no que eu saía do elevador, antes ainda que a porta do apartamento fosse aberta! Hoje em minha casa, são duas cadela e um cachorro, Sacha,Maya e Preto. Percebes minha transformação? Sim são bichos, dividem comigo a terra onde moro! Têm nome e são amados, cuidados com tanto carinho quanto, ainda aprendiz, consigo partilhar! Grata Codi querido, aprendi muito bem a lição. És um grande Mestre! Nos encontramos por aí!!!!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sofia e Jacira Cap XIII

Jacira cheira, lambe as mãos, que no dia anterior trouxera para sua boca aquele alimento sagrado, servido nas festas, em sua tribo, pirão de milho com leite e mel. O som que sai de sua boca é um misto de gemido de prazer e de dor. Ela quer tanto sua vida de volta! Alimentar seu corpo trouxera cheiros, sensações, que estavam bem guardadas no íntimo de seu ser. Ela lembra a expressão da mulher que lhe oferecera outro prato, e que ela fugira sem qualquer gesto ou sinal de gratidão . Bem o contrário, se portara como uma ladra! Escondida na mata, ela dormira bem próxima à casa da mulher negra e da branca. Coça a barriga, para espantar o barulho que ela faz... fome de novo? Ela se sente muito cansada, não lembra quando fora sua última noite de sono sereno, como na oca, onde se preparava para um dia liderar sua tribo. Mas porque mesmo estes pensamentos estão agora com ela? Sacode a cabeça com força, para os dois lados, na esperança que os pensamentos fujam...não adianta, eles continuam aqui. Mas a lembrança está tão atrapalhada, nem sabe direito o que lembra! As velhas da tribo a ensinando, as nove luas que passara sósinha na mata e agora, perambulando...onde está sua tribo? seus familiares? o que aconteceu com ela? Observa o local onde estivera no dia anterior, está tudo calmo. São duas grandes construções , ela repara em todos os detalhes. É então que a porta da casa maior se abre e a mulher branca sai dela. Os cabelos cor de trigo, amarrados em uma trança que cai sobre o ombro direito encanta Jacira, O sol bate nos cabelos e reflete estrelinha pequenas. A mulher traz uma bacia pequena, e vem na direção de Jacira que se encolhe entre os arbustos. Jamais ela a estaria vendo. Jacira é mestra em camuflagem, como a outra mulher pode estar vindo direta em sua direção? Mas é isso mesmo que acontece. Sofia vem com passos curtos, ela não é alta, e sua intuição a leva para um determinado ponto, onde a cêrca delimita as suas terras. Sofia deixa sobre uma grande pedra, o prato, com o mesmo alimento do dia anteior. Ela sente a presença da índia, Durante a noite falara com Rui a respeito dela, contara como invadira a roubara o alimento das mãos de Nakeba. O marido a alertara para ter cuidado com "este tipo de gente". Mas ela já resolvera, iria tentar conquistar a índia, ela poderia ficar com sua família, ajudar, renderia mais o trabalho. E por isso, largara a bacia com uma porção bem farta do alimento. Sofia volta devagarinho para casa, senta comodamente na cadeira de balanço e finge estar separando grãos para serem plantados. Mas seu olhar não perde de vista a bacia. Passam duas horas! Teimosa, Sofia fica ali, aguardando um movimento da índia que ela pressente estar por perto. Então acontece. Primeiro um movimento nas folhagens, em seguida um vulto que aparece. Os cabelos desgrenhados e sujos, os panos que cobrem o corpo, estão esfarrapados, e o cheiro ruim, falta de banho,é trazido pelo vento até Sofia. A índia olha para Sofia, sem medo. Pega a bacia com o pirão e acocorada no chão se alimenta. No que termina, coloca o pote de volta onde pegara. Bem devagar, ela retorna de onde viera. Sofia levanta, vai até a cerca e coloca um pedaço generoso de pão com salame feito por ela, e volta para casa. Entrando nela sem olhar para trás. Jacira como um felino, se aproxima de novo da grande pedra e pega o pão, soltando gemidos que são levados pelo vento até Sofia e também até Nakeba, que em silencio , no galpão, observara cada detalhe da estratégia de Sofia e de Jacira.

domingo, 12 de agosto de 2012

Fazendo o que amo fazer

Como já deves ter percebido, a vida de Jacira, Sofia e Nakeba é uma longa aventura! Magia, curandeirismo,orixas, xamãs, anjos e santas durante oitenta anos estiveram com elas, vivendo uma troca e um avanço incrível. Imagina Nakeba com o conhecimento de seu povo africano, Sofia com sua crença inabalável e Jacira a animal mutante, tudo isso junto, evoluindo em experiências fantásticas. Elas envelheceram juntas? He he, não vou contar. Um dia te conto a história completa destas tres mulheres que deixaram um legado maravilhoso do qual estou guardiã. Acredito que a sociedade humana tenha que evoluir muito mais, para receber este tesouro. As informações são importantes demais, para serem veiculadas neste período-tsunami que vivemos! Enquanto ele não passar ainda temos uns quinze meses pela frente, esta história volta para a "caixa de pandora" nome do baú onde estão guardados os livros que estão escritos para, um dia, serem editados. Retorno então para ti, falando sobre situações atuais, e o modo mais sereno de navegarmos este mar de ondas gigantescas. Então? Amanhã dia treze de agosto... Há mais de trinta anos, comemoro este dia, como o dia das bruxas, aqui no paralelo trinta sul! Já estou com tudo preparado... caso a Mãe Natureza permita, fogo aceso! Caso chova a chama de uma vela de mel de abelhas ou o fogo na lareira. E, no momento que será um desses= tres, seis, nove, doze,quinze,dezoito e vinte e uma horas(escolha UM momento desses) vais expandir a luz que acenderes, DETERMINANDO paz para o planeta; paciência para os humanos e compaixão para os animais. Neste ano, não vamos trabalhar a expansão através de nossa magia para situações particulares. Nem faz isso, estarás perdendo tempo(preciosíssimo)! Sabes que neste dia, queimo a vassoura que fiz ano passado, a nova já está pronta. Será imantada em uma dessas horas que te falei, sendo perfumada com olíbano. As tres mulheres pediram para uma vez por semana, eu escrever um capítulo da vida delas. O que achas?

sábado, 11 de agosto de 2012

Jacira , Nakeba e Sofia Cap XII

Jacira acorda com os primeiros raios do dia! O orvalho deixa os galhos da árvore onde ela dormira escorregadios. Como uma naja, ela desliza o corpo até o chão. As narinas sentem o cheiro adocicado do pirão de milho e mel que ela comia com sua tribo, todas as manhãs. Esta lembrança provoca lágrimas de saudades, nela. Sente tanta falta da vida que foi perdida, que novamente a loucura toma conta de sua mente. Insana, se deixa levar pelo instinto, buscando como um urso atrás do mel, a origem deste cheiro. Anda por um bom tempo sem perceber que a mata ficou para trás. A trilha por onde anda é mais aberta. As marcas de rodas de carroça fundas nesta trilha, não estivesse ela tão perturbada, avisam que está se aproximando de um lugar novo. Mas o cheiro está cada vez mais forte e próximo! O sol já se apresenta forte no céu! Ela percebe algumas construções que não sabe identificar, parecem ocas? Quadradas? Pessoas devem viver ali dentro. Não consegue se aproximar delas, o latidos de cães brabos a impede. Não importa, o cheiro que ela persegue não vem dali. Continua, inebriada pelo sonho de quem sabe, encontrar sua tribo. No que a curva do caminho que está seguindo termina, ela enxerga outra construção, parecida com a que vira há algumas horas atrás. O sol já vai alto e aquece seu corpo. Para! Observa como uma onça, procurando identificar possíveis perigos... um cachorro se aproxima dela abanando o rabo. Ele é grande, preto de olhos cor de mel. Ela sente que ele não representa perigo, baixa a guarda, só quer encontrar uma porção de pirão de milho com mel! Ele parece a reconhecer. Seu latido é alegre e parece dar boas vindas. Mas Jacira nem lembra mais o que é isso, desconfiada faz sinal para que ele se aquiete. Na mesma hora o cão silencia, só o rabo abanando demonstra que ele está feliz! Devagarzinho, ela se aproxima de uma construção de troncos de árvore atravessados. Seu corpo tem a agilidade de um animal de caça. Os trapos que mal cobrem seu corpo, parecem aderir à pele, como se fossem penas. Assim ela se aproxima de um buraco (janela) feito na construção e olha se espantando com o que vê. Duas coisas chamam sua atenção... duas mulheres estão lá dentro. Uma delas tem os cabelos cor de mel e a outra é completamente negra! A outra coisa que atrai sua atenção como um ímã é o que a mulher branca tem nas mãos! O que a trouxera até ali! O cheiro entra em seu corpo, domina toda a lógica desta guerreira! Como uma criança, ela adentra a construção, indiferente à reação das duas mulheres,agressiva arranca o prato com o alimento, e como um bicho lambe a comida, pensando que morrer agora é estar no paraiso! Nakeba, ainda fraca recua, tropeçando na cadeira e caindo na cama. Sofia impactada pela atitude da índia, não sabe como reagir. Pensa nas crianças, elas sairam com Rui, relaxa! Faz sinal para Nakeba, pedindo calma. A comida do prato é devorada por Jacira em segundos. Sem movimentos bruscos, Sofia mostra à ela o outro prato, o seu, e com gestos diz para ela que pode comer. Jacira desconfiada solta o grito da onça que vive dentro dela e num salto foge, rápida e ágil, como entrara! Nakeba levanta da cama, a guerreira adormecida nela, desperta neste momento. Num pulo está na porta! Sofia a chama, gesticula aflita, pedindo que se acalme. O perigo passara! A voz de Sofia acalma Nakeba, que no portão do galpão, observa a índia que some na mata que fica nos fundos do galpão. Sofia já ouvira falar dos índios que rondam onde moram. Os colonizadores já haviam tentado pegá-los para trabalhar. Mas "são preguiçosos, sujos e burros", quando Sofia sempre pensou em como deve ser difícil para eles o que está acontecendo! Sim, ficara muito assustada com a índia, mas estranho...não sentira medo! Pede a Nakeba que volte para a cama, amanhã ela começarão a trabalharem juntas nas tarefas da casa. Elas se comunicam ainda em sinais. Algumas palavras Nakeba já consegue entender, mas são muito poucas. Sofia não tem pressa. O que aconteceu com esta índia precisa ter uma explicação. Fome? Mas as lágrimas brotavam dos olhos da índia, enquanto devorava o alimento, havia algo mais ali. Sofia vai até onde a índia sumira. Olha inquieta, buscando algum sinal que diga que ela ainda está por aí... nada, nem um som. Tudo ao redor está em silêncio. Um arrepio na nuca da portuguesa, ´diz para ela não insistir. Humilde ela obedece o sinal que seu corpo lhe dá. Quando for noite, antes de deitar, ela virá para colocar um prato da mesma comida para a índia. Isso decidido, traz alegria para o coração de Sofia! Algo novo e bom, vem por aí! Sorridente, ela volta para seus afazeres, na expectativa de rever a índia, talvez amanhã?

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sofia e Nakeba Cap XI

No galpão, Sofia observa a mulher que trouxera consigo, do navio negreiro. Está cansada, mas só fisicamente. Sua dedicação vinte e quatro horas por dia,garantiu a vitória! O sono de Nakeba é calmo. Seu corpo não é sacudido em sobressaltos, nem o choro convulsivo contínuo está presentes. Se foram! Mesmo muito cansada, ajoelha defronte a imagem de sua Santa Senhora, que trouxera lá de dentro de casa, para ajudar a curar sua nova ajudante, e reza com gratidão, mais uma batalha vencida. Sai do galpão, fechando a pesada porta com cuidado, para não fazer barulho, mas começa a rir, percebendo que a sinfonia do novo dia que começa está no ar e a pleno. O barulho dos animais, pedindo comida, o canto dos pássaros, tudo ao seu redor fala de vida e movimento. Mesmo assim, com cuidado fecha a porta e percorre a distância que separa o galpão da casa, muito feliz! Após um rápido banho, prepara o café, cuja aroma se espalha pela casa e logo chega Rui na cozinha, já pronto para a lida do dia. Os dois se abraçam com carinho e mais um dia começa! Rui sai para trabalhar. Com a casa limpa, a comida cozinhando no fogão à lenha, ela vai até o galpão, equilibrando com cuidado uma bandeja com um delicioso café da manhã. Os dois meninos brincam de pegar com as crianças da vizinha (do sítio ao lado do seu) que vieram passar o dia em sua casa. Quando ela abre a porta do galpão, surpresa vê Nakeba em pé, apoiada na cadeira que Sofia trouxera para sentar ao lado dela enquanto velava por sua saúde. Elas se olham, e Nakeba desata a chorar, pegando as mãos de Sofia, cobrindo de beijos e falando coisas que ela não entende, mas percebe ser gratidão. As duas sentam lado a lado, e como se fossem irmãs, sentem uma afinidade enorme uma pela outra. Com muita calma, fazendo gestos que acompanham suas palavras, Sofia vai contando para Nakeba quantos dias se passaram desde que elas chegaram em casa. E sempre com gestos, ela pede para sua nova ajudante se alimentar, pois ela tem que voltar para cuidar da casa e das crianças. Recomenda ainda, após ver tudo que trouxera ser comido, que Nakeba volte a dormir, para se recuperar totalmente. Antes de sair,Sofia olha com carinho para Nakeba que, obediente já estava deitada, pensa então que levará mais uma semana para ela estar forte e pronta para ajudar. Olha para a imagem de sua santa querida, com respeito e veneração, pega a imagem e leva consigo de volta para sua casa.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Jacira Cap IX

A figura humana que se esgueira pela mata, tem a aparência de uma velha. Ela anda nas trilhas da mata brasileira, feitas por homem branco, sem medo! Seu rosto estampa um olhar alienado, o tempo todo. Já encontrara diversos grupos de caçadores de índios, que consigo trazem o inferno. Eles se afastam dela com repugnância. Se alimenta de frutas e raízes. Seu corpo, coberto por trapos, se assemelha a um farrapo humano. Dentro dessa triste figura, se encontra o que resta de Jacira! Desde o acontecimento no rio, com o corpo levado na água,do pequeno índio que carregara dentro de si nove meses, fôra embora seu interesse por viver. Desde então, andara em tantos lugares! Guiada pela Estrela brilhante no céu,levada a sítios antes inimagináveis por ela, aprendera muito. Observando as transformações que estão ocorrendo onde até então era o paraíso, hoje sabe interpretar a mínima mudança de energia ao seu redor. O som dos cavalos, o cheiro dos homens maus, chegam à ela muito antes deles aparecerem à sua frente. Como parte de expectadora de cada tragédia, pudera interferir tantas vezes, que perde a conta. De sua garganta, fizera sair o urro da onça, mudando o trajeto de suas caçadas, muitas vezes fizera com que se perdessem na mata. Um sorriso de indiferença surge no rosto da índia, quando sua mente lhe mostra quantos homens brancos moprreram, perdidos por lá, graças às suas armadilhas! Em diversas ocasiões evitara que outras jovens índis vivessem o terror que ela vivera, soprando pequeninas setas envenenadas, matando na hora os violadores. Os que fugiram assustados, começaram a espalhar a lenda do Espírito da mata! Assim o tempo passa nesta terra tão violada. Os índios cada vez mais, se embranhando nas florestas, apagando as pistas da mudança, para sobreviver, procurando se afstar cada vez mais, do homem branco. Jacira não pudera fazer o mesmo! Sempre que pensava em fugir, a Estrela surgia e apontava direção oposta. Fosse noite fosse dia, lá surgia ela. Como uma velha feiticeira que se tornou, obedece seguindo com humildade sua nova mãe, agora, a Estrela Guia. Anda nos caminhos, observa cada pedrinha, cada folha que cai, o canto dos pássaros, não se esconde mais. Observa no olhar humano, quando encontra algum, que se transformara muito. Não lembra quantas luas se passaram, há muito tempo não busca o reflexo de seu corpo nas águas calmas dos rios. Uma estranha paz envolve sua consciência. O que antes mexia com suas emoções, não a toca mais. A razão domina seu instinto. Neste instante, o céu está repleto de estrelas. O frio da noite não a incomoda mais. Acocorada no chão, aguarda pacientemente o surgimento de sua Estrela. A noite passa e como sempre, é no clarear do dia que Ela surge, forte fulgurante! O olhar atento da índia observa a intensidade do brilho. Busca os pontos cardeais, como fôra ensinada... vê a direção que deve seguir. Então logo surge a resposta. Levanta a mão esquerda desenhando no ar a estrela de cinco pontas, fechando um círculo ao redor. No chão, repete o gesto. Relaxa a tensão dos músculos das pernas. Escolhe uma árvore, entre tantas ao seu redor. Como uma macaca sobe e, lá em cima descansa o corpo, encolhida. Antes de adormecer, enxerga a coruja que a está olhando, atenta! O grito da coruja diz para Jacira adormecer em paz, que ela estará velando seu sono. Um cheiro de fumaça, onde a farinha de milho era cozida pelas mulheres em sua tribo chega até ela. Nem percebe se é real ou fruto da saudade que sente, de um tempo que já não volta mais! Adormece tranquila e seu sono a leva para o passado, onde é tão feliz!

sábado, 4 de agosto de 2012

Sofia capVIII

Em terras novas, como Sofia chama onde mora, ela transformou com o passar do tempo o casebre onde mora com seu marido e seus dois filhos. No início, lembrava de seu Portugal querido todos os dias. A saudade de sua família que lá ficara, sem que ao menos pudesse se despedir, era de uma dor quase insuportável, mas que aos poucos fôra diminuindo. Dois anos se passaram, desde aquele malfadado dia. Mas Sofia sempre foi uma portuguesa corajosa! Ainda pequena, ajudava a mãe nas tarefas de casa e quando sobrava tempo, ia com o pai e os irmãos trabalhar na terra, plantando e colhendo alimentos vendidos na vila. Em uma dessas idas é que conhecera seu marido. Eles trocaram olhares e logo se aproximaram, para nunca mais ficarem longe um do outro! E a vida ao lado de Rui desde o início tem sido de muito trabalho e luta. Hoje, ela olha a casa onde moram, pensativa.Aos poucos, estava conseguindo deixá-la parecida com a que tinham, quando o capelão quase destruiu suas vidas! A dedicação dela, e os parcos recursos financeiros deixaram seu lar um primor! O pouco dinheiro que Rui troxera, fôra muito bem administrado. Nesta terra, a troca é o modo normal de adquirir bens, sejam quais forem. Rui é um excelente marceneiro e são poucas as pessoas com capacidade por aqui. E vontade de trabalhar também, muito poucas. Por isso os dois, logo conseguiram com coragem e trabalhando bastante, irem adquirindo o que Sofia queria! As outras famílias que já estavam a mais tempo buscam Sofia para tudo. Ela prepara chás, faz bolos deliciosos, até ensina outras crianças a ler, junto com seus filhos,aqui não há escola. Recebe em troca, verdadeiros tesouros, um lampião; panos que ela fizera cortinas e colocara nas janelas da sala e do quartos de dormir. Às poucas louças que conseguira trazer no navio, se juntaram muitas outras, neste sistema de trocas. Quando não estão estudando as lições inventadas da cabeça da mãe, os dois meninos vão com o pai, ajudar no trabalho dele. Assim ela geralmente fica em casa sósinha, todas as tardes, que são longas neste país tão quente. Ela dedica este tempo ao cultivo de seus chás. Muitos ela teve que testar para o que serviam! São ervas com cheiro, que ela colhe até hoje, quando sai para caminhar com as crianças. Ela colhe a planta com carinho,em sua horta, conversando com as outras ervas "apresenta" a nova moradora,assim os canteiros não param de crescer! Quando a terra que moram hoje, foi adquirida, antes mesmo de erguer as paredes, Rui fizera a caixa de madeira, lá nos fundos, onde as abelhas fizeram sua colméia!Para sua Sofia, suas abelhas e mel, muito mel, este mel que ela adoça seus chás! O capelão Luiz, que reza as missas aos domingos, não tem tempo para a prática terrível de seus irmãos da congregação européia, a inquisição! O médico que viera nos primeiros navios que aqui chegaram, morrera faz tempo. Desde então a cura das doenças naturais desta região e estranha ao corpo dos europeus é tratada com reza, muita reza e poucos milagres. Entã Dona Sofia é tratada com respeito,por ele, além de ser muito católica! Quando chega um novo navio, a pergunta sempre é a mesma? Veio algum médico? Sofia na comunidade tem ajudado tanto, que ele agradece à Deus ela ter vindo para cá e isso basta, para ele. Aos poucos,nela a saudade de sua terra foi desaparecendo. A liberdade que vive aqui é diferente, ela ajuda crianças a nascerem, quando batem à sua porta, não importa a hora, ela vai até o canteiro, colhe suas ervas. As coloca em um saco branco de algodão e vai ajudar quem precisa. Suas mãos são calejadas, aqui o trabalho é mais duro, mas ela não se importa! Seus filhos estão saudáveis, seu marido é um homem trabalhador que a ama e a vida segue o rumo traçado por Deus e por sua Nossa Senhora, tão amada! Pensando no trabalho cada dia maior, e também em ter alguém para ajudá-la, ela resolve ir onde os navios param e tentar encontrar alguém para trabalhar com ela. Rui concordara, já acha que ela está trabalhando demais! Assim, após o pequeno café da manhã, as crianças foram com o pai e ela pegou a carroça indo até a vila para isso. Ela acompanhara todo o desembarcar. As mulheres que desembarcaram não serviam para o trabalho que ela precisa. Já estava desistindo, quando os negros acorrentados começaram a descer do navio. E então, quase por último, ela vira aquela mulher, fraca, arrastando o corpo, quase morta-viva. O corpo magro, parecia que iria cair a qualquer momento . Acompanhara o desinteresse de compra dos que estavam ali. Então pedindo à sua Mãe Nossa Senhora que lhe ajudasse, ela propusera ficar com a negra, que estava só fraca, desnutrida e ela sabia bem como a fortificar com suas ervas. Mesmo quando ela vomitou e o sangue tingiu o chão, Sofia não desistiu. E assim, neste instante, ela olha o corpo alquebrado de Nakeba? sim foi o nome que ela disse! Dirige a carroça entoando um canto para Maria, mãe de Jesus, com pressa, para chegar em casa. No que chegam, dirige a carroça para o galpão, onde as ferramentas de Rui estão guardadas. Lá prepara com feno, uma cama. Usa um lençol velho para deitar Nakeba nesta cama improvisada. Embebe o pano na bacia com água e ervas maceradas, o cheiro fortvem no pano e Sofia passa em todo o corpo da nova amkiga, com muito cuidado. Faz ela beber um pouco de leite com mel , insistindo pois ela está muito fraca! Cobre seu corpo com uma manta, fecha a porta do galpão, deixando o anjo de guarda de guardião. Cansada, entra em casa para preparar a janta da família. Está escurecendo, passa as mãos arrumando os longos cabelos cor de fogo em uma trança, que desmanchara ao cuidar de Nakeba. Um sentimento de alegria, como se uma irmã sua tivesse vindo de visita toma conta de Sofia. Sim, ela está muito feliz!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Jacira Cap VII

O ventre crescido da índia Jacira, indica que a hora do parto se aproxima. As anciãs da tribo se preparam, sabem que entre o quarto e o sexto dia da nona lua cheia, deverão estar prontas para ajudar. Jacira tentara , perde a conta de quantas vezes foram, tirar de dentro de seu corpo a dor da maldição. Mas a criança que carrega em seu útero, rsistira a tudo. E os nove meses passaram com seu ventre crescendo cada vez mais. A tribo toda sabe o que está acontecendo, com sua índia mais querida. E ela não é a única! Outras jovens sofreram igual à ela. Algumas se suicidaram, outras continuam presas, servindo com seu corpo, aos homens brancos. Hoje, em todas as tribos, existe em cada uma, um jovem índio, com a finalidade única de avisar a todos, quando os homens maus estão chegando. Eles imitam o piar da coruja e o que acontece em seguida, parece com um furacão chegando. Todos fogem para se proteger, embrenhando-se na mata. Em sua oca, contruida somente para as mulheres que vão parir, Jacira observa os raios da lua cheia. Estes raios atravessam as frestas iluminando seu volumoso ventre. As dores começam a surgir, mais espaçadas e vão ficando mais próximas, com o passar das horas. Dores que atravessam sua barriga e explodem nas costas. Geme baixinho, abafa o som que sai de sua garganta com um pano na boca. Ela não quer que as mulheres mais velhas saibam que a hora chegou. Com esforço, arrasta seu corpo para longe da tribo, sentindo as dores cada vez mais fortes. Com o corpo arqueado, ela anda tão rápido quanto seja possível, até alcançar o rio que passa próximo da aldeia. A lua enorme no céu, cúmplice clareia o caminho, é facil chegar até a margem do rio. Ela morde com força o pano em sua boca, que abafa os gritos nas contrações mais fortes. No que seus pés tocam a água, se acocora no chão. Busca no aprendizado que vivera com o pajé e a curandeira a tolerância à dor. Numa dor que parece rasgar seu corpo, suas entranhas se abrem e a criança é expelida num jato de água e sangue. Ainda de cócoras, ela sente o alívio do peso que sai de seu corpo. Espia por entre as pernas... no chão uma criança de pele clara e olhos riscados. O choro dela incomoda Jacira. Sua mente traz as horas terríveis que vivera nas mãos daqueles animais servindo-se de seu corpo, como a última das mulheres, desmanchando para sempre todos seus sonhos ao lado do homem que amava, para quem guardara sua pureza, sua castidade. Ainda muito fraca, sentindo o sangue correr entre suas pernas ela ergue o seu corpo, tendo o cuidado de pegar a criança. O olhar de Jacira é frio. Repara que é um índio macho, índio não, é semente dos homens da cruz. Ela grita isso, para os quatro ventos e sua voz rouca ecoa na selva. Adentra o rio, com decisão, cuida para que o corpo do pequeno ser não encoste no seu corpo. Sómente suas mãos tocam a criança, que chora alto, misturando seu choro com o grito dos animais noturnos da mata. Ela fala em tupi guarani, enquanto mostra a criança para a lua cheia. Quando a água toca sua cintura, ela sente que o resto do que havia em seu útero sai de seu corpo e é levado pela correnteza, rio abaixo. Neste exato instante, larga a criança, que nunca sentira ser sua, nunca a desejara pelo contrário a odiara com todas as forças de sua alma. O volume caudaloso do rio engole rapidamente o corpo do pequenino ser, levando-o consigo. Jacira fica dentro do rio, sentindo um vazio muito grande, dentro dela. Sente que está novamente livre! Estranha sensação, com este pensamento ela mergulha, e por instantes, sente vontade de também ser levada pelo rio. Sua mente fica tão vazia quanto seu útero. e novamente a guerreira que existe dentro dela, assume o controle de sua mente e à faz voltar à tona!Já na margem agasalha seu corpo com uma pele de leopardo. Seus pés não a levam de volta para a tribo. Pega uma trilha qualquer, levanta os olhos para o céu...enxerga uma estrela que brilha muito! Resolve deixar-se guiar por ela. Agora sim, as lágrimas correm livres, em seu rosto. Embrenha-se na mata, busca um refúgio seguro. Longe o mais possível, longe desta praga terrível que está infestando sua terra e transformando o que era o paraíso em inferno, o homem branco.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Nakeba além mar cap VI

O pesadelo parece não ter fim. No porão do navio, o número de negros está reduzido. Diversos corpos foram retirados mortos ao longo da viagem, desde a saída da África. Nakeba vira, ao longo dos meses, que parecem não ter fim, alguns corpos de mulheres, algumas ainda nem haviam tido o primeiro sangramento que as tornaria mulher, serem puxados lá para cima e com toda certeza jogadas ao mar. Ela consegue sobreviver porque busca na magia, as asas da águia e voa até sua amada terra, onde se abastece de muita coragem! Mas o sofrimento vendo aquele povo todo ir morrendo à mingua; pouca comida; água quase nenhuma e os excrementos misturados ao vômito espalhando doença, faz com que lute muito para não perder a razão! Sente que está no limite de suas forças. É quando o barulho e o movimento do grande barco, fica diferente. Aguça os sentidos, estão chegando! Seu coração dispara, parece que o sofrimento vai ter fim! Vai encontrar seus irmãos e juntos darão um jeito de voltar para casa. Uma escada é jogada e um por um, os negros saem do porão. Está amanhecendo, o sol esta na linha do horizonte. Esfrega os olhos, a luminosidade atinge em cheio seu rosto, magoando seus olhos acostumados à escuridão do porão. Sente quando uma corrente é presa à argola que fora colocada em seu pé direito, ainda lá, na África. Saindo do torpor que se encontra, ela tenta se rebelar, mas está fraca demais, e quando puxa a perna, puxa outra mulher,e só então se dá conta que todos estão acorrentados, uns aos outros. Mesmo tonta, ela acerta o passo, para não magoar mais ainda seu corpo e dos outros presos. Eles descem do barco e são conduzidos para a terra, onde diversas pessoas estão à espera. E para terror da africana, vê seus irmãos de cor, serem vendidos, sendo avaliados como bichos. Seu coração está sangrando. Quando chega sua vez, (ela emagrecera muito) está tão magra, que ninguém se interessa em sua compra. Vai ficando por último, está muito cansada! Vê os companheiros de viagem irem com seus donos para longe de sua visão. Uma sensação ruim toma conta dela, aperta o peito, parece que um torniquete sufoca em sua garganta, não deixando que respire. Tudo vai ficando escuro ao redor , ela cai no chão, pensando que jamais verá seus irmãos novamente. Quando desperta, sua cabeça está no colo de uma mulher branca, que dera uma erva para ela cheirar, é o que a trouxe de volta. Ouve então a mulher conversar com o homem que está encerrando a venda da mercadoria vinda da África. Meio tonta, entende que ela está se oferecendo para ficar com Nakeba. O vendedor chuta as pernas de Nakeba, esperando um movimento, mas ela sente uma náusea, vomita e com sangue. O homem dá outro chute nela, furioso. Com voz dura, fala coisas que ela não entende, mas vê um pequeno sorriso no rosto da mulher que a acudira. E é ela quem ampara Nakeba a ajudando a levantar e fazendo sinal que a acompanhe. No que elas se afastam do lugar da venda, a mulher abre o saco de pano que traz consigo, tira um pedaço de pão com carne e dá para ela comer. Também dá um pouco de leite de cabra, que Nakeba adorava beber, lá na tribo. Então como um dique que se rompe, o choro explode incontrolável na africana. Seu corpo é sacudido de uma forma tão violenta, é um choro tão convulsivo, que a mulher a abraça com carinho, a acalmando. Então, ela coloca a mão no peito e diz... eu Sofia , eu Sofia ... e tu? Aponta a mão para a africana que junta forças e fala Nakeba...Nakeba!