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terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Silvinha a menina da sinaleira
-Puxa, hoje está muito frio!
Esfregando uma mãozinha na outra, pulando para se aquecer, Silvinha, menina de oito anos de idade, sobe na calçada, pois o sinal está verde abrindo para os carros que, avançam sempre rápidos! Enfia a mão no bolso. As poucas moedas ganhas até este momento são poucas. O suficiente para comprar um litro de leite. Fecha o sinal. O olhar inteligente dela, observa quais os carros que estão com o vidro abaixado, os outros é perda de tempo. Rápida,se aproxima estendendo a mão ligeiramente suja...- Ô tio, dá um trocadinho aí? Duas balas são postas em sua pequena mão estendida, acompanhadas de um sorriso distraido. Menos mal, pensa a menina. Abre uma das balas e a coloca em sua boca...macia, cor de rosa, gostosa! A outra, guarda no bolso poído do velho casaco que agasalha seu corpo. As pernas doem um pouco. Senta em uma das caixas, vazia, de frutas que os outros guris estão vendendo na sinaleira. Sente o estomago roncar...- Caraca, fome de novo? Resolve abrir a outra bala, quando um lindo carro vermelho pára no sinal fechado e, uma bela mulher acena com a mão lhe chamando. - Vem cá menina, rápido que o sinal vai abrir...Correndo, Silvinha chega junto do carro. Ágil, pega o saco de plástico de cor roxa, que a mulher sorridente lhe entrega. - Tem umas coisinhas aí, querida! O que tu não quiseres... O sinal abre, os outros carros buzinam, impacientes parecendo gritar:rápido, rápido! E lá se vai a bela mulher, dirigindo seu maravilhoso carro, deixando uma nuvem perfumada, que Silvinha inebriada aspira! - Hum, que cheirinho bom! O mesmo perfume está no saco que ganhou. Os outros guris, vendedores de frutas; pedintes de esmola como ela; limpadores de vidro com seus baldes e esponjas;se juntam ao redor dela curiosos, fazendo uma algazarra e parecendo um bando de gaivotas em torno de um barco de pesca em alto mar. - Me deixem ver primeiro, depois reparto com voces! A voz determinada da pequenina, contem os que já avançavam suas mãos esfomeadas no presente ganho por ela. Abre o saco...vai tirando de dentro del: batons gastos; vidros de perfumes lindos mas vazios; brincos sem brilho; que em instantes estão nas mãos deles. No fundo do saco, ela pega uma pequena bruxinha nariguda e com sapatos pretos engraçados. Nem parecem de mulher. A bruxinha veste uma roupa preta desbotada e um avental cheio de mínúsculas estrelinhas, também desbotadas pelo tempo. Ela olha com atenção, vê que a bruxinha segura uma vassoura rôta e um galho de ervas secas, mas só os galhos. Um dos meninos tenta pegar a bruxinha, Silvinha com gesto rápido a coloca em seu bolso dizendo...-isto eu quero, o resto é de voces! O cair da tarde chama as crianças para a realidade, é hora de maior movimentoe cada um retorna ao seu "trabalho". É tarde da noite. A tosse de Lola, a velha sacoleira desperta Silvinha de seu sono.Os trapos que cobrem a velha mulher escorregaram de seu corpo. A menina ajeita as "cobertas" em Lola, bem devagarinho, para não acordar as outras quatro crianças que dividem o espaço coberto com uma lona, nos fundos de um depósito de caixas vazias. Encolhida no acolchoado que fora ganho por Lola, Silvinha tira do bolso a bruxinha que ganhara da mulher perfumada. -Como é teu nome? Tu não tem ninguem que nem eu, né? Tudo bem! Como vou te chamar? Pode ser Silvinha, como eu? Não, não fica legal... -Es tre li nha! O vento que sopra lá fora, parece sussurrar um nome...es tre li nha! -Shhhh1 Silencio! A voz cansada de Lola assusta Silvinha.Rápidamente guarda a bruxinha no bolso. Se acomoda entre as outras crianças para ficar mais quentinha e adormece. O sol já está alto, encontrando Silvinha com um saco de laranja nas mãos. Ela está na sinaleira, vendendo laranjas e sua voz se destaca no meio do transito. - Vai uma laranja aí? São só cinco reais moço! Tá bem doce! O sinal abre, o sinal fecha, os motoristas com seus carros, apressadamente seguem seus destinos. -Ô guria, come teu lanche! Pedrão, o garoto mais velho, que determina quem vende ou quem pede esmola, entrega um sanduiche para a menina, de pão com mortadela. Ela agarra sôfrega e vai para seu canto preferido a caixa de frutas vazia, sentar para comer. Mastiga bem devagarzinho, para durar um pouco mais, este momento que ela aprecia tanto! Ela tira a bruxinha do bolso e oferece um pedacinho de seu sanduiche...as duas conversam -Não agradecida!diz a bruxinha. -E eu que ainda não sei teu nome? Não podemos conversar direito, como vou te chamar? Neste instante o reflexo do brilho do sol, refletido do vidro em um carro que passa rápido pelo sinal, faz brilhar as estrelinhas do avental da bruxinha. -Já sei! Vou te chamar de Estrelinha! Feliz, Silvinha dança com a bruxinha em suas mãos, esquecida da realidade ao seu redor. Ela está feliz! -Agora tenho uma amiga! Estrelinha! Que bom tu está aqui comigo! Feliz, como nunca se sentira antes, ela retorna ao trabalho, se aproximando dos carros parados! Um carro prateado, da cor das estrelas do avental desbotado de Estrelinha, está com o vidro abaixado. -ô moça, a senhora pode comprar estas laranjas para me ajudar? -Quanto é guria? -Cinco reais um saquinho com dez laranjas! -Me dá um e fica com o troco! Um dos olhos da senhora do carro prateado, pisca com cumplicidade para a menina. Sem acreditar, Silvinha segura a nota de cinquenta reais que a senhora lhe dá! A menina guarda a nota no bolso,enquanto fala eufórica com sua bruxinha...- Olha Estrelinha! Não dá para acreditar! Tu tá me dando sorte! Outros carros...o sinal que abre que fecha, vidros fechados vidros abertos, o sol se põe. Silvinha chega no depósito para mais uma noite de sono. Orgulhosa, ela junta as quatro crianças que dividem com ela e Lola a velha lona preta,seu abrigo. Da sacola do supermercado, ela tira pão, mortadela, queijo, dois litros de leite achocolatado, e uma caixa grande de bombom. Quando o silencio da noite alta, cai sobre a cidade, Silvinha dorme segurando firme em suas mãos sua bruxinha, sonhando que o milagre se repetirá no outro dia!
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