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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Maria Adelaide

APRENDENDO A ENVELHECER Todos os dias, ela faz sua caminhada. O corpo envelhecido pelo passar dos anos, anda com dificuldade. As calçadas são mal conservadas, o cuidado é redobrado. Já caíra uma vez, nesta mesma calçada. A mão direita apóia com firmeza no chão, uma bengala que, garante seu equilíbrio. Vestida com simplicidade, em tons de rosa e lilás, jamais abandonou a menina peralta e colorida que tem dentro de si. Seus passos são curtos, sem pressa! Lembra do tempo em que foi escrava do relógio, tantos anos atrás, e um sorriso desenha o rosto cheio de rugas. Sacode a cabeça, para afastar pensamentos enquanto fala para si mesma:"-Foco Maria Adelaide. Foco". A volta dada no quarteirão onde mora, traz um prazer do qual ela não abre mão. E, hoje decidida, resolve experimentar o pão, na nova padaria que inaugurou já faz um tempinho. Nova para ela! Uma larga avenida, com sinaleira para três tempos, causadora de um medo terrível de não conseguir atravessar, a impediu até este instante, de experimentar a delícia que produz aquele cheirinho que está no ar, misturado com tantos cheiros de uma cidade grande, como a sua. Mulher determinada e corajosa, para que tanto receio? Quantas e quantas vezes, neste local, observou, estudou o tempo e ensaiou em casa, quantas passadas são necessárias, para chegar do outro lado?Olha com atenção, o delicado relógio em seu pulso. Presente de seus filhos, em seu aniversário passado. Não é para saber as horas...mas sim, para quem a observa, imaginar que está parada na calçada, esperando por alguém! De novo sorri consigo mesma. Quem perderia seu tempo, olhando para ela? Todos sempre tão apressados, imersos em suas máquinas de ilusão. Decide enfim, vai atravessar! O corpo fica tenso, a sinaleira para pedestres abre. O coração dispara! -" Não, ainda não".A voz sai sem que ela controle, quase em pânico. Precisa se acalmar! As pessoas transitam indiferentes, passando por ela, como se não existisse. Rápidas, apressadas, muito apressadas. -"Não vou conseguir! Com estas pernas tão lerdas, pareço mais uma tartaruga"! Ela continua falando para si mesma, em voz baixa. Uma brisa traz até ela, o delicioso cheiro do pão, recém saído do forno. Seus olhos se enchem de aguinha salgada ( como ela chama as lágrimas, desde menina). O tempo da sinaleira, parece estupidamente curto. Frustração, sensação que a envolve. Respira fundo, procurando conter tanta desilusão, para consigo mesma. Movimenta o corpo em direção oposta aquela padaria pintada de amarelo creme de ovos, quando sente um leve toque em suas costas... -" A senhora está tentando atravessar? Posso ajudá-la"? Uma jovem executiva, Maria Adelaide deduz, pela pasta preta que ela, com elegância carrega, é quem a interpela. E a voz educada, continua...-"Estou esperando um táxi, ele vai demorar um pouco para chegar. O trânsito está horrível, aliás, como sempre". Uma onda de gratidão, aquece o coração da velha senhora, sente a coragem voltar!-" Sim minha filha, preciso de ajuda! O tempo da sinaleira parece tão rápido. Não sinto confiança nestas minhas pernas"! A jovem executiva, dá o braço, onde Maria Adelaide se apóia, sentindo força neste apoio. A jovem se apresenta: -"Meu nome é Janaína, se apoie sem medo e venha comigo"! As duas olham juntas para a sinaleira que, indiferente segue seu ritmo...verde, amarelo, vermelho...-" É agora, vamos lá, não tenha receio"! As duas fazem a travessia no tempo exato! Já no outro lado, a senhora com a respiração ofegante, agradece muito o gesto caridoso de Janaína. Esta acena feliz, atravessa rápido de volta, entrando com a agilidade da juventude, no táxi que chegara, e já se foi, misturado naquele trânsito movimentado. Maria Adelaide entra na padaria onde pequenas mesinhas redondas, com cadeiras cômodas, em madeira clara, que a convidam para sentar. A garçonete, bem jovem, anota em um pequeno bloco de cor amarelo suave, seu pedido: uma taça de café com leite e um pãozinho com manteiga, para acompanhar. Enquanto se delicia com o alimento que é tal qual ela imaginara, pensa que vai pedir ajuda a alguém para atravessar de volta. O pão quentinho, se desmancha em sua boca, a cada delicada mordida sua! Janaína a lembrou que não somos ilhas isoladas. Precisamos uns dos outros. Pedir ajuda, pode facilitar tudo! Sem pressa, Maria Adelaide sorve em pequenos goles o café com pãozinho, mais gostoso, que provou em toda sua vida!

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