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segunda-feira, 10 de setembro de 2012
O despertar de Sofia
Desde a manhã em que Sofia encontrara Nakeba e Jacira dormindo um sono profundo no galpão uma abraçada na outra, se passaram tres semanas. Neste meio tempo, ela observou curiosa, o jeito da índia ser. O lugar que ela escolhera para trabalhar, fõra a horta. Lá estão as ervas curativas que Sofia cultiva, com esmêro. Desde que chegara ao Brasil, a horta fôra dividida em duas partes; uma a das hortaliças a outra das ervas. O lado das hortaliças crescera muito, dali ela já alimenta a família; do tomate ao espinafre. Tem períodos que eles até vendem para a vizinhança, de tanto que dá! E o herbário, onde estão as ervas, já foi aumentado pela terceira vez. Às sementes trazidas de sua terra natal, Sofia juntou ervas nativas colhida nos passeios com a família. Seus chás já são famosos na pequena vila,onde vivem. Nakeba com infinita paciência, fizera diversos testes com Jacira, para ver onde ela iria ajudar. Dentro de casa, um desastre. Cozinhar nem se fala! Quando chegaram na horta, seus olhos adquiriram um certo brilho, mas um sorriso triste surgiu em seus lábios, quando vira as ervas. Assim, lá ela ficou. As ervas passaram a exalar um perfume forte, sentido por todos. No início, Sofia ficara enciumada, mas de alguma maneira isso se aquietou em seu coração e lhe faz bem agora, chegar no herbário e encontrar lá sua nova amiga.
É noite, a lua cheia enorme, no céu, ilumina tudo ao redor. As crianças já estão dormindo e Rui está em casa, com seu caderno de contas, a escrever nele. Hoje é dia de colher ervas para curar feridas de amor e para fazer unguentos poderosos! Quando chega, percebe que Jacira e Nakeba lá estão. Ela ainda não tivera tempo de mostrar às duas, como fazer para que as ervas sequem sem que fiquem com mofo. Afinal é a primeira primavera que passam juntas. As palavras são poucas, entre as tres mulheres. Os gestos e o olhar são sua comunicação. Desde que se conhecem, as três, é assim. Rui se diverte com isso, pois tem momento que elas chegam a fazer juntas a mesma coisa, no mesmo momento. Ao chegar na horta, no que ela fecha o pequeno portão , as duas se aproximam dela, em silêncio. Ficam esperando, atentas seu gesto. Ela então mostra como fazer, para cortar os galhos e quais as ervas escolhidas. Ela não usa tesoura. Sua avó, lá em Portugal, a ensinara a cortar até a espinheira, com os dedos, sem magoar à si nem à planta. Mostra com cuidado, como se faz. Quando o primeiro galho de roseira é cortado, Jacira entoa um canto, parecendo som de uma coruja. Um arrepio percorre o corpo de Sofia que busca o olhar de Nakeba. Surpresa, percebe que ela parece estar em transe. Ela colhe uma linda rosa branca. Despetala e divide as pétalas. Coloca na mão de Jacira que silencia seu canto, na mão de Sofia que curiosa acompanha cada gesto das duas. Com o punhado de pétalas que ficara em suas mãos, ela mostra para a grande lua, que está acima da cabeça delas. De novo Jacira começa a cantar. Nakeba com sua fala crioula, conversa com a lua. Sofia,se sente envolver por esta magia que está no ar e chama sua preciosa Santa,em voz baixa, orando para ela. É quando a lua fica cada vez maior, seus raios cada vez mais claros, e uma estrela cadente risca os céus. O silêncio toma conta da noite. Jacira sopra as mãos de cada uma, mostrando com gestos que elas devem comer as pétalas, como ela está a fazer. Sofia sente o sabor adocicado da rosa, em sua boca. É aveludada, macia, e tráz um profunda sensação de paz! Nas feições de suas amigas, sente o mesmo, elas estão sentindo a mesma coisa! Então, as três se dão as mãos fazendo uma roda,e o canto de Jacira não é mais triste, as palavras são tristes, de saudade, mas ao mesmo tempo de paz!.Uma fôrça vinda do alto, puxa as mãos delas para cima, elas levantam a cabeça e lá está a estrela que sempre guiara Jacira na mata. Ela rompe em prantos e assim como ela, Sofia e Nakeba choram junto. Uma saudade profunda de algo que não voltará jamais, toma conta das três. Elas não sabem quanto tempo ficam alí. Mas como saindo de um sonho, Sofia "desperta" e vê que a lua já se afastara. Olha com carinho e cumplicidade Para Nakeba e Jacira, beija com carinho a palma da mão direita de cada uma, a palma, como sua avó fazia com ela- menina. Vai para a casa grande, espia os filhos que dormem profundamente. Tira a roupa e deita extremamente cansada ao lado de seu marido, que a abraça e a aconchega em seu corpo.
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