São nove horas da manhã deste domingo. O telefone toca, buscando minha alma que viajava bem longe daqui! Preguiçosa, é domingo pego o celular... minha irmã mais nova dando a notícia do falecimento de um tio querido, que falece trazendo alívio perante seu estado, para todos que o amam. Ele sofria do mal de alzheimer, estava já há um tempo internado em uma clinica.
Acordei meu marido, para irmos ao enterro as onze e meia da manhã. Tudo muito rápido, resolvida a infraestrutura aqui de casa e da Gigi, lá nos fomos para o enterro.
Já estava no carro, quando aquela voz, fala de maneira categórica...
-precisas levar quatro galhos de mirra.
Rápida, para não atrazar, corri até os canteiros cultivados por mim, peço licença à mãe Natureza e colho os ramos de mirra.
Ao chegarmos a tradição se fez presente:
o reencontro de familiares que só vemos em datas como essa, lembranças da infancia, recordações, um aperto no peito que logo é desmanchado por um sorriso transmissor de paz!
Acelero o passo, com discrição, me afasto de meu marido, e logo o local se transforma em um vilarejo, com pessoas rudes, talvez na Polonia(?) e um velho com o olhar mais caridoso, com a mão indica onde está o corpo. Está enrolado em um lençol claro, cercado por um pequeno grupo de adultos e alguns jovens. Eles se voltam irritados com a presença de estranhos, mas a mais velha os acalma ao ver a mirra em minhas mãos.
Com infinito respeito curvei minha cabeça, em sinal de saudação. Me aproximei do corpo e dei para uma das mulheres que lá estavam a cultuar o morto, os quatro galhos da mirra.
Ela agradeceu, e com o mesmo cuidado com que eu dera à ela a erva, levantou o lençol e as colocou junto às mãos do defunto, cobrindo o corpo logo em seguida!
Uma enorme tontura quase me deixa sem ar. Mas mulher velha que sou, respirei com discrição, e enxerguei o mundo de hoje, novamente! Abracei com carinho meus parentes. Minha mãe já lá estava, com minhas irmãs e cunhado, bem acompanhada, e serenando a todos com palavras de conforto.
Quando o caixão foi fechado, os galhos de mirra foram junto. Meu coração ficou quentinho e grato por ter levado para ele o que era necessário, seja lá para onde ele estivesse indo. O corpo foi levado para cremação. Voltamos para casa, trocando referencias de nossa infancia, meu marido e eu.
Quando parei, para aqui estar, escrevendo neste blog, não iria contar esta experiencia, estou direcionada para os passos que nos levam a viver este fim e início de ano.
Resolvi abrir os emails antes de escrever. Lá estava ...
um artigo importante sobre mal de alzheimer, enviado por uma amiga querida Rita, muito interessante!
Óbvio, como diz minha parceira rejane...
igual à voz que orientou levar a mirra, esta voz, desta formidável teia, internet, trouxe a dica. Posso seguir ou não...
Como já somos muuuito velhas, o resultado foi contar para ti, que les este blog, simples pois?
O que quero tirar como soma neste dia, é que os códigos estão aí, na frente de nosso nariz, e a opção seguir ou não.
O que antes era conversa de loucas(os), hoje é um instrumento importantíssimo de aprendizado.
Estou em paz e feliz! Desejo aos descendentes de meu tio, que sejam dignos deste homem que mereceu que uma mulher do século vinte e um, levasse Mirra, para sua cremação!
Tenhas um lindo início de semana, plena(o) de amor ao próximo!
Até amanha!
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