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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Jacira Cap IX

A figura humana que se esgueira pela mata, tem a aparência de uma velha. Ela anda nas trilhas da mata brasileira, feitas por homem branco, sem medo! Seu rosto estampa um olhar alienado, o tempo todo. Já encontrara diversos grupos de caçadores de índios, que consigo trazem o inferno. Eles se afastam dela com repugnância. Se alimenta de frutas e raízes. Seu corpo, coberto por trapos, se assemelha a um farrapo humano. Dentro dessa triste figura, se encontra o que resta de Jacira! Desde o acontecimento no rio, com o corpo levado na água,do pequeno índio que carregara dentro de si nove meses, fôra embora seu interesse por viver. Desde então, andara em tantos lugares! Guiada pela Estrela brilhante no céu,levada a sítios antes inimagináveis por ela, aprendera muito. Observando as transformações que estão ocorrendo onde até então era o paraíso, hoje sabe interpretar a mínima mudança de energia ao seu redor. O som dos cavalos, o cheiro dos homens maus, chegam à ela muito antes deles aparecerem à sua frente. Como parte de expectadora de cada tragédia, pudera interferir tantas vezes, que perde a conta. De sua garganta, fizera sair o urro da onça, mudando o trajeto de suas caçadas, muitas vezes fizera com que se perdessem na mata. Um sorriso de indiferença surge no rosto da índia, quando sua mente lhe mostra quantos homens brancos moprreram, perdidos por lá, graças às suas armadilhas! Em diversas ocasiões evitara que outras jovens índis vivessem o terror que ela vivera, soprando pequeninas setas envenenadas, matando na hora os violadores. Os que fugiram assustados, começaram a espalhar a lenda do Espírito da mata! Assim o tempo passa nesta terra tão violada. Os índios cada vez mais, se embranhando nas florestas, apagando as pistas da mudança, para sobreviver, procurando se afstar cada vez mais, do homem branco. Jacira não pudera fazer o mesmo! Sempre que pensava em fugir, a Estrela surgia e apontava direção oposta. Fosse noite fosse dia, lá surgia ela. Como uma velha feiticeira que se tornou, obedece seguindo com humildade sua nova mãe, agora, a Estrela Guia. Anda nos caminhos, observa cada pedrinha, cada folha que cai, o canto dos pássaros, não se esconde mais. Observa no olhar humano, quando encontra algum, que se transformara muito. Não lembra quantas luas se passaram, há muito tempo não busca o reflexo de seu corpo nas águas calmas dos rios. Uma estranha paz envolve sua consciência. O que antes mexia com suas emoções, não a toca mais. A razão domina seu instinto. Neste instante, o céu está repleto de estrelas. O frio da noite não a incomoda mais. Acocorada no chão, aguarda pacientemente o surgimento de sua Estrela. A noite passa e como sempre, é no clarear do dia que Ela surge, forte fulgurante! O olhar atento da índia observa a intensidade do brilho. Busca os pontos cardeais, como fôra ensinada... vê a direção que deve seguir. Então logo surge a resposta. Levanta a mão esquerda desenhando no ar a estrela de cinco pontas, fechando um círculo ao redor. No chão, repete o gesto. Relaxa a tensão dos músculos das pernas. Escolhe uma árvore, entre tantas ao seu redor. Como uma macaca sobe e, lá em cima descansa o corpo, encolhida. Antes de adormecer, enxerga a coruja que a está olhando, atenta! O grito da coruja diz para Jacira adormecer em paz, que ela estará velando seu sono. Um cheiro de fumaça, onde a farinha de milho era cozida pelas mulheres em sua tribo chega até ela. Nem percebe se é real ou fruto da saudade que sente, de um tempo que já não volta mais! Adormece tranquila e seu sono a leva para o passado, onde é tão feliz!

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