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sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Jacira Cap VII
O ventre crescido da índia Jacira, indica que a hora do parto se aproxima. As anciãs da tribo se preparam, sabem que entre o quarto e o sexto dia da nona lua cheia, deverão estar prontas para ajudar. Jacira tentara , perde a conta de quantas vezes foram, tirar de dentro de seu corpo a dor da maldição. Mas a criança que carrega em seu útero, rsistira a tudo. E os nove meses passaram com seu ventre crescendo cada vez mais. A tribo toda sabe o que está acontecendo, com sua índia mais querida. E ela não é a única! Outras jovens sofreram igual à ela. Algumas se suicidaram, outras continuam presas, servindo com seu corpo, aos homens brancos. Hoje, em todas as tribos, existe em cada uma, um jovem índio, com a finalidade única de avisar a todos, quando os homens maus estão chegando. Eles imitam o piar da coruja e o que acontece em seguida, parece com um furacão chegando. Todos fogem para se proteger, embrenhando-se na mata. Em sua oca, contruida somente para as mulheres que vão parir, Jacira observa os raios da lua cheia. Estes raios atravessam as frestas iluminando seu volumoso ventre. As dores começam a surgir, mais espaçadas e vão ficando mais próximas, com o passar das horas. Dores que atravessam sua barriga e explodem nas costas. Geme baixinho, abafa o som que sai de sua garganta com um pano na boca. Ela não quer que as mulheres mais velhas saibam que a hora chegou. Com esforço, arrasta seu corpo para longe da tribo, sentindo as dores cada vez mais fortes. Com o corpo arqueado, ela anda tão rápido quanto seja possível, até alcançar o rio que passa próximo da aldeia. A lua enorme no céu, cúmplice clareia o caminho, é facil chegar até a margem do rio. Ela morde com força o pano em sua boca, que abafa os gritos nas contrações mais fortes. No que seus pés tocam a água, se acocora no chão. Busca no aprendizado que vivera com o pajé e a curandeira a tolerância à dor. Numa dor que parece rasgar seu corpo, suas entranhas se abrem e a criança é expelida num jato de água e sangue. Ainda de cócoras, ela sente o alívio do peso que sai de seu corpo. Espia por entre as pernas... no chão uma criança de pele clara e olhos riscados. O choro dela incomoda Jacira. Sua mente traz as horas terríveis que vivera nas mãos daqueles animais servindo-se de seu corpo, como a última das mulheres, desmanchando para sempre todos seus sonhos ao lado do homem que amava, para quem guardara sua pureza, sua castidade. Ainda muito fraca, sentindo o sangue correr entre suas pernas ela ergue o seu corpo, tendo o cuidado de pegar a criança. O olhar de Jacira é frio. Repara que é um índio macho, índio não, é semente dos homens da cruz. Ela grita isso, para os quatro ventos e sua voz rouca ecoa na selva. Adentra o rio, com decisão, cuida para que o corpo do pequeno ser não encoste no seu corpo. Sómente suas mãos tocam a criança, que chora alto, misturando seu choro com o grito dos animais noturnos da mata. Ela fala em tupi guarani, enquanto mostra a criança para a lua cheia. Quando a água toca sua cintura, ela sente que o resto do que havia em seu útero sai de seu corpo e é levado pela correnteza, rio abaixo. Neste exato instante, larga a criança, que nunca sentira ser sua, nunca a desejara pelo contrário a odiara com todas as forças de sua alma. O volume caudaloso do rio engole rapidamente o corpo do pequenino ser, levando-o consigo. Jacira fica dentro do rio, sentindo um vazio muito grande, dentro dela. Sente que está novamente livre! Estranha sensação, com este pensamento ela mergulha, e por instantes, sente vontade de também ser levada pelo rio. Sua mente fica tão vazia quanto seu útero. e novamente a guerreira que existe dentro dela, assume o controle de sua mente e à faz voltar à tona!Já na margem agasalha seu corpo com uma pele de leopardo. Seus pés não a levam de volta para a tribo. Pega uma trilha qualquer, levanta os olhos para o céu...enxerga uma estrela que brilha muito! Resolve deixar-se guiar por ela. Agora sim, as lágrimas correm livres, em seu rosto. Embrenha-se na mata, busca um refúgio seguro. Longe o mais possível, longe desta praga terrível que está infestando sua terra e transformando o que era o paraíso em inferno, o homem branco.
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