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sábado, 11 de agosto de 2012
Jacira , Nakeba e Sofia Cap XII
Jacira acorda com os primeiros raios do dia! O orvalho deixa os galhos da árvore onde ela dormira escorregadios. Como uma naja, ela desliza o corpo até o chão. As narinas sentem o cheiro adocicado do pirão de milho e mel que ela comia com sua tribo, todas as manhãs. Esta lembrança provoca lágrimas de saudades, nela. Sente tanta falta da vida que foi perdida, que novamente a loucura toma conta de sua mente. Insana, se deixa levar pelo instinto, buscando como um urso atrás do mel, a origem deste cheiro. Anda por um bom tempo sem perceber que a mata ficou para trás. A trilha por onde anda é mais aberta. As marcas de rodas de carroça fundas nesta trilha, não estivesse ela tão perturbada, avisam que está se aproximando de um lugar novo. Mas o cheiro está cada vez mais forte e próximo! O sol já se apresenta forte no céu! Ela percebe algumas construções que não sabe identificar, parecem ocas? Quadradas? Pessoas devem viver ali dentro. Não consegue se aproximar delas, o latidos de cães brabos a impede. Não importa, o cheiro que ela persegue não vem dali. Continua, inebriada pelo sonho de quem sabe, encontrar sua tribo. No que a curva do caminho que está seguindo termina, ela enxerga outra construção, parecida com a que vira há algumas horas atrás. O sol já vai alto e aquece seu corpo. Para! Observa como uma onça, procurando identificar possíveis perigos... um cachorro se aproxima dela abanando o rabo. Ele é grande, preto de olhos cor de mel. Ela sente que ele não representa perigo, baixa a guarda, só quer encontrar uma porção de pirão de milho com mel! Ele parece a reconhecer. Seu latido é alegre e parece dar boas vindas. Mas Jacira nem lembra mais o que é isso, desconfiada faz sinal para que ele se aquiete. Na mesma hora o cão silencia, só o rabo abanando demonstra que ele está feliz! Devagarzinho, ela se aproxima de uma construção de troncos de árvore atravessados. Seu corpo tem a agilidade de um animal de caça. Os trapos que mal cobrem seu corpo, parecem aderir à pele, como se fossem penas. Assim ela se aproxima de um buraco (janela) feito na construção e olha se espantando com o que vê. Duas coisas chamam sua atenção... duas mulheres estão lá dentro. Uma delas tem os cabelos cor de mel e a outra é completamente negra! A outra coisa que atrai sua atenção como um ímã é o que a mulher branca tem nas mãos! O que a trouxera até ali! O cheiro entra em seu corpo, domina toda a lógica desta guerreira! Como uma criança, ela adentra a construção, indiferente à reação das duas mulheres,agressiva arranca o prato com o alimento, e como um bicho lambe a comida, pensando que morrer agora é estar no paraiso! Nakeba, ainda fraca recua, tropeçando na cadeira e caindo na cama. Sofia impactada pela atitude da índia, não sabe como reagir. Pensa nas crianças, elas sairam com Rui, relaxa! Faz sinal para Nakeba, pedindo calma. A comida do prato é devorada por Jacira em segundos. Sem movimentos bruscos, Sofia mostra à ela o outro prato, o seu, e com gestos diz para ela que pode comer. Jacira desconfiada solta o grito da onça que vive dentro dela e num salto foge, rápida e ágil, como entrara! Nakeba levanta da cama, a guerreira adormecida nela, desperta neste momento. Num pulo está na porta! Sofia a chama, gesticula aflita, pedindo que se acalme. O perigo passara! A voz de Sofia acalma Nakeba, que no portão do galpão, observa a índia que some na mata que fica nos fundos do galpão. Sofia já ouvira falar dos índios que rondam onde moram. Os colonizadores já haviam tentado pegá-los para trabalhar. Mas "são preguiçosos, sujos e burros", quando Sofia sempre pensou em como deve ser difícil para eles o que está acontecendo! Sim, ficara muito assustada com a índia, mas estranho...não sentira medo! Pede a Nakeba que volte para a cama, amanhã ela começarão a trabalharem juntas nas tarefas da casa. Elas se comunicam ainda em sinais. Algumas palavras Nakeba já consegue entender, mas são muito poucas. Sofia não tem pressa. O que aconteceu com esta índia precisa ter uma explicação. Fome? Mas as lágrimas brotavam dos olhos da índia, enquanto devorava o alimento, havia algo mais ali. Sofia vai até onde a índia sumira. Olha inquieta, buscando algum sinal que diga que ela ainda está por aí... nada, nem um som. Tudo ao redor está em silêncio. Um arrepio na nuca da portuguesa, ´diz para ela não insistir. Humilde ela obedece o sinal que seu corpo lhe dá. Quando for noite, antes de deitar, ela virá para colocar um prato da mesma comida para a índia. Isso decidido, traz alegria para o coração de Sofia! Algo novo e bom, vem por aí! Sorridente, ela volta para seus afazeres, na expectativa de rever a índia, talvez amanhã?
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