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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sofia e Jacira Cap XIII

Jacira cheira, lambe as mãos, que no dia anterior trouxera para sua boca aquele alimento sagrado, servido nas festas, em sua tribo, pirão de milho com leite e mel. O som que sai de sua boca é um misto de gemido de prazer e de dor. Ela quer tanto sua vida de volta! Alimentar seu corpo trouxera cheiros, sensações, que estavam bem guardadas no íntimo de seu ser. Ela lembra a expressão da mulher que lhe oferecera outro prato, e que ela fugira sem qualquer gesto ou sinal de gratidão . Bem o contrário, se portara como uma ladra! Escondida na mata, ela dormira bem próxima à casa da mulher negra e da branca. Coça a barriga, para espantar o barulho que ela faz... fome de novo? Ela se sente muito cansada, não lembra quando fora sua última noite de sono sereno, como na oca, onde se preparava para um dia liderar sua tribo. Mas porque mesmo estes pensamentos estão agora com ela? Sacode a cabeça com força, para os dois lados, na esperança que os pensamentos fujam...não adianta, eles continuam aqui. Mas a lembrança está tão atrapalhada, nem sabe direito o que lembra! As velhas da tribo a ensinando, as nove luas que passara sósinha na mata e agora, perambulando...onde está sua tribo? seus familiares? o que aconteceu com ela? Observa o local onde estivera no dia anterior, está tudo calmo. São duas grandes construções , ela repara em todos os detalhes. É então que a porta da casa maior se abre e a mulher branca sai dela. Os cabelos cor de trigo, amarrados em uma trança que cai sobre o ombro direito encanta Jacira, O sol bate nos cabelos e reflete estrelinha pequenas. A mulher traz uma bacia pequena, e vem na direção de Jacira que se encolhe entre os arbustos. Jamais ela a estaria vendo. Jacira é mestra em camuflagem, como a outra mulher pode estar vindo direta em sua direção? Mas é isso mesmo que acontece. Sofia vem com passos curtos, ela não é alta, e sua intuição a leva para um determinado ponto, onde a cêrca delimita as suas terras. Sofia deixa sobre uma grande pedra, o prato, com o mesmo alimento do dia anteior. Ela sente a presença da índia, Durante a noite falara com Rui a respeito dela, contara como invadira a roubara o alimento das mãos de Nakeba. O marido a alertara para ter cuidado com "este tipo de gente". Mas ela já resolvera, iria tentar conquistar a índia, ela poderia ficar com sua família, ajudar, renderia mais o trabalho. E por isso, largara a bacia com uma porção bem farta do alimento. Sofia volta devagarinho para casa, senta comodamente na cadeira de balanço e finge estar separando grãos para serem plantados. Mas seu olhar não perde de vista a bacia. Passam duas horas! Teimosa, Sofia fica ali, aguardando um movimento da índia que ela pressente estar por perto. Então acontece. Primeiro um movimento nas folhagens, em seguida um vulto que aparece. Os cabelos desgrenhados e sujos, os panos que cobrem o corpo, estão esfarrapados, e o cheiro ruim, falta de banho,é trazido pelo vento até Sofia. A índia olha para Sofia, sem medo. Pega a bacia com o pirão e acocorada no chão se alimenta. No que termina, coloca o pote de volta onde pegara. Bem devagar, ela retorna de onde viera. Sofia levanta, vai até a cerca e coloca um pedaço generoso de pão com salame feito por ela, e volta para casa. Entrando nela sem olhar para trás. Jacira como um felino, se aproxima de novo da grande pedra e pega o pão, soltando gemidos que são levados pelo vento até Sofia e também até Nakeba, que em silencio , no galpão, observara cada detalhe da estratégia de Sofia e de Jacira.

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