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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Jacira, Nakeba e Sofia

Na primeira noite que Jacira passa no galpão, Nakeba está atenta, cuidando da índia. Algo estranho e ao mesmo tempo familiar, que ela ainda não consegue identificar. O olhar alucinado e perdido, que ficara no navio, quando se sentiu enlouquecer ao ser tratada como bicho, está agora em Jacira. Lembra de si, ao pisar em terra, sem identificação alguma daquela guerreira que embarcara nele. Lembra dos cuidados de Sofia, que a haviam trazido de volta, sentindo que agora é sua vez de ajudar esta mulher, deitada na cama improvisada. A posição dela é de uma criança, os joelhos dobrados,junto ao corpo, em sono, inerte, sem qualquer energia. Sua memória busca as canções de Orixás, que cantava com sua tribo, ao redor da fogueira! Com voz mansa, canta baixinho, sentindo um arrepio tomar conta de seu corpo. Desde que saíra da África, esta sensação não fôra mais sentida! Em alerta, ela continua a cantar. Vê então um ser estranho se materializar ao lado da cama...é de um velho índio, o corpo coberto com penas de pássaros de todas as cores. Ele parece não ver Nakeba. Sacudindo um chocalho começa a dançar batendo os pés no chão. Ela não entende o que ele diz, mas o canto é forte e o ritmo aumenta aos poucos. Tres índias velhas, surgem ao lado dele...nas mãos ervas de cheiro forte! Uma delas começa a esfregar as ervas na cabeça , a outra no peito e a terceira na barriga de Jacira! Viram de bruços o corpo dela, repetindo o ritual. Agora são os quatro índios que cantam. O ritmo acelerado vai diminuindo aos poucos, até ficar um murmúrio. O corpo dela é virado de volta, como estava antes. A que parece ser a mais velha, deita seu corpo sobre a índia que dorme, em seguida as outras duas, fazem o mesmo. Os tres corpos se fundem com o corpo de Jacira, que começa a tremer muito. Nakeba então começa a entoar o canto da cura, chamando seus Orixás. A figura do velho índio vai sumindo até desaparecer totalmente. O corpo sobre a cama, começa a suar, quando Jacira abre os olhos. Grossas lágrimas vertem como uma cachoeira de seus olhos. O corpo é sacudido por soluços. Nakeba deita na cama, abraçando com carinho o corpo dela. Respira forte, fazendo barulho, até sentir que a índia acompanha sua respiração. O choro passa, as lágrimas secam. As duas adormecem abraçadas! Um sono profundo embala os sonhos de Nakeba e Jacira. O sonho de Nakeba é doce, ela está em sua amada África. O de Jacira é de nutrição. Ela está nos braços de sua avó, que nina com carinho sua neta, herdeira da tradição de seu povo. E é assim que Sofia encontra as duas, quando, no dia seguinte abre a grande e pesada porta do galpão.

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