Capítulo II
Foi um estranho despertar. Lembro de estar recebendo a anestesia. Adormecer profundamente, e me sentir em um ambiente estranho, diferente. Busco identificar onde estou, a princípio parece outro planeta ou outra dimensão. A reverberação de movimentos é sem som. A luminosidade é pálida, tipo cinza prateado. Sinto movimentos passarem por mim, mas estou imobilizada. Não enxergo nada familiar. Percebo sons sem identificar a origem deles. Entendo os sons...falam de tele transporte. Procuro visualizar o que é meu corpo. Mas não entendo o que sou. É UMA MASSA FÍSICA, sem forma, mas nada parecido com sombra. Volto minha atenção para o som. É uma língua que conheço, pois entendo tudo perfeitamente. É como se eu estivesse em uma aula da escola. Sempre atenta. A lógica do que é ensinado, é surpreendente, imagino como Leonardo da Vinci se sentia, com tantas informações, a vida inteira. Ao pensar no mestre Leonardo, brota de dentro de mim uma enorme irritabilidade. Poxa! Mas nem aqui, me deixam em paz? Isso surgiu como um raio, ao lembrar que eu estou em anestesia...é minha saúde! Estou em uma cirurgia de retirada de um câncer! Não bastou até aqui ? 67 anos! Desde menina vivendo com mundos paralelos, com povos visíveis só para mim, a cada instante. Agora necessito estar concentrada em minha saúde, ou na recuperação dela. Sinto uma fraqueza assustadora, como se me distanciasse abruptamente dessa realidade cinza pálida! Sinto falta de ar, náuseas, meu Deus! Estou morrendo? Não consigo respirar, que assustador! Tudo fica preto ao meu redor. Sinto meu corpo mergulhar em um redemoinho escuro, denso, pesado. As minhas têmporas latejam e um movimento agitado de pessoas, vestidas de branco, ao redor de mim, tocando meu corpo. A dificuldade em respirar normaliza, Um líquido foi injetado em meu pescoço , e caio em um sono profundo. Uma paz desconhecida, misturada com alívio, toma conta de mim. Não estou morta!
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