Estou tentando vir da infância até os dias atuais. Vamos ver se consigo.
Cabe registrar aqui, que dos cinco anos até os nove, dez, as lembranças se misturam com as histórias que minha mãe contava. Elas eram bárbaras, e contadas antes de adormecermos. Com o passar do tempo, outras prioridades surgiram, como é natural na vida dela, tipo ser mãe de seis filhas-mulher , e pude viver plenamente meu mundo especial.
Nesta época, lá por meus noves anos de idade, convivi com um tio, que nos visitava regularmente, (era vendedor) morava na capital (como mãe minha falava, cheia de orgulho) e ele foi a primeira pessoa que seus acompanhantes interagiram comigo.
Descobri que ele não os via, ele se dizia médium. Foi meu primeiro contato com esta palavra, médium. Só vim a entender muitos anos depois.
Quando ele entrou em casa, estávamos ao redor do fogão à lenha, era inverno e o frio algo espantoso, muito frio. Todas as casas possuiam fogão igual ao nosso, e lareiras tambem.
Ele trouxe um bando que tomou conta do espaço todo na cozinha. Era um grupo barulhento e festivo. Vestiam roupas que eu vira no livro de história do Brasil, escravos e senhores espanhóis, eles não falavam em portugues.
Antes do café, era fim de tarde, meus pais começaram a fazer perguntas ao meu tio, e ele começou a responder de um modo engraçado, pediu para darem um palheiro que ele mastigava no canto da boca, enquanto falava.
Eu aprendi alguma coisa, aquele dia, que até hoje não tenho muito clareza. Eu entendia perfeitamente o espanhol falado, minha boca não se mexia, ao mesmo tempo que eu falava com eles, e o som ao redor, feito por todos morria, eu só ouvia o que a turma que viera com ele falava!
Eu e minhas irmãs fomos dormir mais cedo, eu me senti muito cansada e no que deitei, adormeci.
No dia seguinte, ao acordarmos, eles já haviam partido. Quando perguntei à minha mãe sobre o mais velho, que contara uma história impressionante sobre navios e moedas perdidas, minha mãe olhou para mim na dúvida se eu estava louca ou contando um sonho.
Como sempre, mais uma vez de tantas outras, guardei para mim o que havia vivido na noite anterior.
Eu já tinha uns trinta anos de idade, quando entendi a história que ele contara, naquela noite para mim. Assistindo o noticiário pela televisão, onde era narrado o encontro de um navio que afundara no mar, séculos atrás, cheio de moedas espanholas.
Creio que por isso, sou paciente, aprendi que explicações para tudo nesta vida, há. E que elas, as explicações, aparecem quando são necessárias.
Esta lição foi chata no início, hoje meu cérebro agradece!
Foram muitas outras as vezes que meu tio visitou meus pais, lá no interior. E em cada vez, o grupo foi diferente, JAMAIS repetiu os seres que o acompanhavam.Algumas vezes tentei falar com meu tio a respeito, ele nunca me levou a sério, he he he. Triste, eu poderia ter aprendido muito com ele e poupado anos luz de ignorancia. Mas aqui é assim, tudo tem seu tempo!
Por hoje era isso!
Até amanhã! Tenhas um lindo dia!
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