Ontem, fui acompanhar minha filha ao supermercado, resolvi ficar esperando dentro do carro. Estava acompanhando o jogo, através do rádio, de meu time, o Internacional, aqui de Porto Alegre.
O carro ficou estacionado em uma praça, à sombra de árvores frondosas. Eu estava bem, acompanhando atentamente o jogo, quando meu olhar foi atraído, puxado! Um homem de meia idade, envelhecido pela aparente pobreza, sentou em um dos bancos da praça. A bengala onde ele se apoiava para andar, foi largada no chão e ele não a pegou, lá ficou. Acendeu um cigarro e começou a observar as pessoas ao redor, ele me viu, dentro do carro, mas não prestou atenção em mim. Uns minutos depois que ele chegara, tempo do meu time fazer um gol, duas crianças chegaram na praça e se juntaram ao homem , que fumava displicente seu cigarro. A menina devia ter uns onze anos, o menino, apesar de baixinho, uns doze anos de idade. Ela tocou na pérna do homem, carinhosa. Eu imaginara ser o velho, avô das crianças, mas quando ela tocou a perna dele, um arrepio passou por meu corpo e apertei minhas pernas, uma contra a outra fortemente.
-Mas que inferno!
Este foi meu primeiro pensamento. É domingo, estou em lazer!
Não adiantou nada, a vida, inexorável, com seu quadro real, puxou minha sensibilidade, lá me fui, aprender, aprender, aprender.
O velho deu um cigarro para a menina, que ele acendeu no dele, ela colocou nos lábios e deu uma tragada profunda, rindo ao soltar a fumaça. Ele então deu um cigarro para o menino, este ele não acendeu. Ela passou a mão com malícia, para meu espanto nele. Em seguida, as duas crianças, fumando com arte seus cigarros, se dirigiram aos balanços e ficaram lá, rindo e balançando seus corpos, como se crianças fossem, o que provava o contrário era aquele cigarro que não acabava nunca.
Respirei fundo. Antigamente, eu teria descido da comodidade de meu carro, e teria ido falar com aquele homem . Ontem, eu deixei as lágrimas rolarem em meu rosto, num choro quente e manso. Lembrei das palavras do taxista que as vezes me leva para casa... o problema daqui, é a prostituição infantil...
Nossa, nossa, nossa.... testemunha silenciosa, orei com todas as forças de minha alma... senti vontade de matar, é sério, aquele ser podre, que deu o cigarro para os dois seres em evolução, era para serem crianças.
Este é meu mundo,teu mundo, nosso planeta!
Rápidamente, meu cérebro foi buscar o equilíbrio da culpa, em mim. O que estou fazendo para ajudar esta sociedade a evoluir? Deus cósmico, que inferno pode ser estar aqui!
Minha filha vinha vindo, com sacolas das compras, apressada, preocupada em ter deixado a mãe esperando.
Sequei as lágrimas de meu rosto, a luz do dia, deixava as lentes de meus óculos escuras. Não deixei ela perceber o sofrimento que estava vivendo naquele momento.
Mostrei para ela as crianças no balanço, rindo , já sem o cigarro. Contei à ela o que se passara, o meu estado de incapacidade real de gestar aquela realidade.
Ela com a lógica de uma libriana, começou a falar do trabalho que faço com as mulheres, há mais de trinta anos. O aprendizado, a troca vivida,onde elas aprenderam comigo, o que nãqo é ensinado nas escolas, o autoconhecimento. Lembrou de duas delas, assistentes sociais, que trabalham com crianças iguais aquelas duas , que me arrancaram de um lindo domingo de sol.
Agradeci o cuidado dela, em que eu ficasse bem, novamente. Aquilo de estar fazendo a minha parte. Voltamos para casa. Estou cá, pensando que esta situação não aconteceu à toa. Vamos ver, para onde a vida vai me levar daqui para diante, sinto que o mundo está a me chamar de volta. Será que minha programação de envelhecer em paz, não é para agora?
Nos falamos amanhã. Tenhas um lindo dia!
A propósito, hoje é segunda feira de encontro no fogo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário