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terça-feira, 24 de abril de 2012

A lenda by rejanebordin

As pernas curtas, não permitem que eles andem mais rápidos. Os dois carregam em suas mãos um galho fino, colhido no amanhecer de um lindo dia de inverno, de um pé de oliveira,colhido há séculos lá na velha Europa. Eles são rápidos, assim como estão aqui, logo logo estão ali! Ninguém, a não ser os seres da natureza iguais à eles, os vêem! A ponta da varinha que Myrta carrega, toca em uma lata de refrigerante, que ela encontra jogada no chão. Myrta é uma gnoma muito velha, tem trezentos e doze anos! Lembra com saudade do tempo em que ela e seu amado Murty precisavam se movimentar em distâncias grandes para encontrar lixo! Hoje, para qualquer lado que eles se virem, é lixo e mais lixo. Gnomo não cansa, dizem os escritores. É mentira, eles cansam sim! Ao toque da varinha a latinha é desintegrada. -Cuidado Myrta! A voz de Murty chega tarde demais! Um objeto duro atravessa o corpo da gnoma que se vira, furiosa, em direção ao pequeno companheiro... -Podias ter me avisado antes! Ao mesmo tempo, ergue o braço curto e segura no ar uma sombrinha velha rosa pink, toda rasgada, que fôra jogada de um carro em movimento.Resolve parar um pouquinho seu trabalho. Abre a sombrinha, o sol atravessa os buracos, fazendo um desenho na sombra que se espreguiça, no chão. Ela enfia o dedo indicador em cada buraco, que se recompõe no mesmo instante que ela toca. Logo, ela tem em suas mãos uma linda sombrinha quase nova! Murty observa o carinho com que ela conserta o que fôra jogado fora, quando a atenção dos dois é despertada pelo barulho de passos...uma menina que parece ter seis a sete anos se aproxima deles. Ela vem distraída, mordendo um pedaço de pão que parece velho. É tardinha, o sol começa a se por , na linha do horizonte. Daqui mais um pouquinho será noite. Para surpresa dos dois, ela os vê e acena para eles...a mão que abana está suja, observa Myrta, a rainha da limpeza! -Que sombrinha linda! A voz da menina encanta, é músical, doce e feliz!Ela não se importou nem um pouquinho com os dois, mesmo com a roupa diferente que eles vestem, ou seus sapatos que terminam em bicos virados para cima... ela está encantada na sombrinha que a gnoma não tivera tempo de desintegrar, porque tambem ficara por momentos, encantada com a cor rosa pink, coisa de mulheres! -Não faça isso! A voz de Myrta impede o movimento de mãos que Murty já começa a fazer e pára! -Por favor amorzinho meu, deixa eu conversar um pouquinho com ela! A voz sai em súplica... -Já fazem décadas que não falamos com ninguém além das ondinas ou das sílfides ou das salamandras, por favor... -Está bem, mas seja rápida, temos muito trabalho pela frente! Ele concorda, se afasta com seu galho tocando todo o lixo e desintegrando, que encontra pela frente. -Como é seu nome menina? -Luisa! Esta sombrinha é tua? Podes deixar eu segurar ela um pouquinho? -Claro, pega. Pode ficar com ela, é um presente meu para ti. A menina pisca os olhos, ela não acredita, está ganhando a sombrinha? será isso mesmo? -Eu agradeço, só quero segurar um pouquinho! Luisa sabe que se chegar no bêco onde vive com outras crianças de rua, logo vão tirar dela e a sombrinha ficará em frangalhos. Myrta, que lê pensamentos, enxerga toda a história desta criança e pensa que ela é igual a de milhões de outras crianças, por todo este enorme planeta... Sacode a cabeça, afastando pensamentos ruins! Observa o carinho, a felicidade de Luisa segurando a sombrinha rosa pink e com um movimento de mãos, expande em pontos luminosos aquela energia que sai do corpo de Luisa. Direciona para todas as crianças que vivem na mesma condição que ela e com as feições sérias, determina justiça para o planeta azul, (é como eles chamam a Terra, nosso planeta). -Eu já vou indo! Aqui está sua sombrinha, ela é muito linda! A voz de Luisa a traz de volta para o aqui e agora. -Muito bem, querida criança, posso te dar um abraço? Enquanto fala Myrta levanta os braços que se alongam e envolvem o corpo da menina, que de olhinhos fechados, sente um calorzinho envolver seu corpo e sente saudades, não sabe direito do que, mas as luzes da rua que acendem dão o alerta... tem que ir para a sinaleira ver se consegue mais umas moedas para levar para o bêco. Se desprende do abraço que parece não querer a largar, abana dando tchau e sai correndo. Murty, que se mantivera à distância, repara nas lágrimas furtivas que brotam dos olhos de sua querida gnoma e num passe de mágica se junta à ela. Rápida ela passa a mão grossa de tanto limpar este planeta em seu rosto,ela se emocionara só isso! -Já está escurecendo, vamos também para casa? Já, os limpadores da noite, os gnomos marrons começam a chegar, para o turno da noite... -Antes de irmos, será que eu poderia fazer "aquilo"? -Não Myrta, definitivamente não! Nosso compromisso com este planeta e com estas pessoas que o habitam é de ajudar a que ele não se torne um grande lixão...cuidar das crianças é tarefa dos anjos, tu sabes bem disso! -Está certo querido Murty, mas te prometo, é a última vez que te peço isso! Eu prometo! Ela cruza os pequenos dedos em forma de cruz para ele ver. -Está bem, vá, te espero aqui, mas não demora, estou muito cansado. Penso que já estamos velhos e o trabalho só aumenta...cada dia os humanos fazem mais lixo e não sabem que estão matando seu planeta! -Em segundos ela chega até onde Luisa está. O trânsito esta hora está intenso! O risco da pequena menina é grande. Ela espera o sinal fechar e se aproxima dos carros pedindo uma moeda, com a mão estendida. -Psiu, ei, psiu! Luisa se vira, mas não enxerga nada, olha para o chão, na calçada onde fica quando a sinaleira fecha e vê algo brilhando.Vai até lá. se abaixa para ver o que é... Myrta materializara para ela um punhado de moedas! Eufórica a menina junta as moedas uma por uma, são muitas! Feliz ela pensa que já pode ir para o bêco, se sente rica! No que a menina sai do campo de visão de Myrta, dobrando a esquina em direção ao bêco, um carro perde o controle e sobe na calçada, batendo no poste de luz, onde Luisa esperava o sinal abrir... Com o olhar feliz,Myrta vai se encontrar com Murty e os dois, de mãos dadas, somem em uma nuvem de luz verde, que nem eles!

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