A montanha

Uma mulher velha, muito velha, anda pela estrada, no interior de uma terra chamada Brasil. Ela está tão cansada! Observa que logo adiante, há uma árvore frondosa. Junta o resto de forças, e arrasta o corpo exaurido até a árvore, onde senta à sombra dela! O caminho tem sido tão longo... Ela nem lembra direito quando ele teve início, as recordações se misturam com a paisagem e a visão de um bando de urubus voando alto a distrai, embaralhando ainda mais as lembranças de um tempo muito distante. Passa a mão enrugada em sua testa, onde o suor escorre! Balança os ombros, enquanto fala para si mesma, em voz alta, que é preferível o calor à chuva. Tira do saco de pano que carrega consigo, uma garrafa pet com água que juntara de um córrego, por onde passara,lá atrás. A água está morna, mas ela nem percebe, sente o líquido abençoado escorrer por seu queixo, descendo pelo pescoço. Por instantes, se engasga e um sorriso ilumina sua face. Tão bom beber água! Seus olhos acompanham o vôo dos urubus, lá no alto. Encantada ela observa eles se esconderem nas nuvens,logo estão à vista novamente. Neste instante sua atenção é chamada para a estrada...lá adiante, onde a estrada reta parece terminar, está o sopé da montanha! Não consegue conter a emoção, duas grossas lágrimas dançam em meus olhos que marejados nublam a visão. Novamente sua mão esquerda, onde duas alianças fininhas denotam uma viuvez, passa em seus olhos, secando a água deles.Respira fundo, sem pressa. Enfim, lá está ela...a montanha que sonha, desde menina. Durante toda sua vida, passara por todo o tipo de situação, sempre sobrevivera pois tinha certeza absoluta que um dia a montanha a encontraria. Dá uma risada cansada. Não a montanha não a encontrara, ela é quem viera ao seu encontro. Há quanto tempo ela começara a busca? Não lembra direito, quantos anos? Não consegue lembrar...remexe no saco, onde pegara a água, até encontrar! Fotos gastas de tanto serem tocadas! Lá está sua história,as observa com carinho, passa os dedos sobre cada uma, fazendo um carinho. Sempre levará todos eles consigo, em seu coração. Olha em direção à montanha, de novo, aquele sorriso de felicidade, quase infantil está com ela.Chegara! Está ali! Com cuidado coloca as fotos de volta no saco, antes as embrulhando em uma saia gasta pelo tempo. Esconde o saco atrás da árvore, com uma estranha sensação de liberdade! Seu olhar busca a estrada, decide levar só a água, que resta na garrafa de plástico verde, ainda com o rótulo do guaraná... e pega a estrada. Conforme vai caminhando e a montanha se aproximando, pensa que gostaria de ser mais jovem, as pernas doem, mas ela não quer parar. Está tão pertinho! Pronto! Cheguei!!! O pensamento está febril. Procura com os olhos, ansiosa. Tem que ter uma trilha, sim ali está!**** uma luz de tom verde claro se abre à sua frente! Encantada ela sorri feliz! Sim, chegara! Sente que a dor em suas pernas não tem mais importância! Seu coração que quase parara, quando vira a montanha, está calmo, aquecido. Estou em casa! Este pensamento se mistura à sensação de leveza que cada vez está mais presente, mais vivido por ela. Fecha os olhos, parece sentir estar sendo carregada montanha acima, nas asas de um anjo de luz!Ainda consegue ouvir o barulho da garrafa de plástico caindo no chão e descendo montanha abaixo*****