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sexta-feira, 27 de julho de 2012
A saga de Isabel Cap III
Em Évora, no interior do interior de Portugal, mais um dia começa! Isabel passara a noite em claro. Seus dois filhos, Pedro Gil de seis anos e Maria Eduarda de quatro anos, ardem em febre. Rui seu marido, esperara o dia clarear para ir na aldeia buscar o médico, o capelão. Isabel aproveita a saída do marido e apressada vai até a pequena horta, que cultiva com cuidado e muito carinho. Ela adora as ervas curativas que planta ali. O sol toca sua cabeça, encoberta por um grande chapéu, que esconde as lindas madeixas cor de trigo. Colhe algumas ervas, tradição que sua avó passara para sua mãe, que antes de morrer, tivera o cuidado de ensinar tudo que sabia para a filha. O cultivo o uso de cada uma e o colher nos primeiros raios do sol. Escolhe uns ramos da erva que tira o calor do corpo. Não fizera antes por dois motivos...Rui tem medo que as pessoas da aldeia possam comentar, e o outro motivo era colher na hora certa. É uma época que por qualquer desconfiança, homens e mulheres são acusados de bruxaria, e sendo julgados pela igreja, são presos e queimados na fogueira. Com agilidade, vira na caneca onde coloca a erva escolhida, a água que no rústico fogão à lenha, fervilha colocando a tampa.Logo, o cheiro forte da erva se espalha pela pequena casa onde mora com sua família. Espera um poquinho o tempo passar, pega a caneca e abre a porta da casa, para que o ar de inverno esfrie mais rápidamente o chá. O sol já vai alto, no céu. Adoça a bebida com uma colherinha de mel. Com carinho ela faz as duas crianças beberem devagarinho o líquido. Com fervor ela reza a Ave Maria, pedindo à mãe de Jesus que tire o mal que aflige seus filhos e que a Santa Senhora os abençoe. Quando elas bebem todo o chá, ela leva a caneca para a cozinha, voltando para junto dos filhos. O tempo vai passando, não muito. Como por milagre, a febre vai baixando. O rosto avermelhado das crianças vai sumindo e a cor normal traz um grande alívio para a mãe. O sono deles agora é calmo e reparador. Aliviada Isabel agradece à sua Santa querida, pelo bem estar de seus filhos. O cansaço da noite mal dormida toma conta dela, relaxa, ao lado deles, adormece .
-O que voce está fazendo, mulher? A voz de Rui a desperta. Por instantes se sente envolvida em uma luz de gratidão e fé! Abrindo os olhos, vê a cara de espanto do Frei Domingos e o olhar aflito de seu marido.
-Eu estava cá a agradecer à Nossa Senhora a cura de nossos filhos. Sua voz sai tranquila e pausada.
-Eu trouxe o capelão para curar eles... Demorei pois tive que ir até a outra vila para encontrá-lo.
Feliz, dona de si, ela pega na mão do marido e o conduz até o quarto, onde as duas crianças dormem. Rui se ajoelha ao lado da cama, toca em suas testas para se certificar. Ele não acredita, a temperatura deles está normal!
-Obrigada meu Deus! A voz dele sai trêmula e agradecida.
-O que é isso? a voz do capelão, que fôra para a cozinha ecoa pela pequena casa como um trovão.
O tom desconfiado com que esta pergunta foi feita, alerta Rui do perigo.
- Isabel explica isso direito mulher!
-É um chá de camomila que eu fiz para baixar a febre de meus filhos, meu senhor!
O capelão tem nas mãos a caneca onde o chá fôra feito...ela ficara destapada, sobre a mesa. Atraidas pelo cheiro do mel, algumas abelhas cairam dentro da caneca e estão mortas.
-Capelão, Rui, isto é apenas um chá! As abelhas devem ter caído enquanto eu peguei no sono. (em vão ela tenta explicar)
-Isso nós veremos depois. Voces não tem permissão para sair de casa, até eu retornar. O tom de voz ameaçador do capelão Domingos deixa clara a desconfiança=bruxaria!
Num rompante ele sai, batendo a porta. Tem o cuidado de levar consigo a caneca com as ervas e as abelhas mortas.
Isabel, aos prantos ajoelha no chão da cozinha enquanto fala...
-Eu não fiz nada de mal, meu marido! Foi só um chá. As abelhas caíram depois que nossos filhos beberam o chá. Sobrou mel no fundo da caneca, elas sentiram o cheiro! Isso as atraiu.
A explicação dela tem um tom de medo e o pânico toma conta da jovem mulher. A palavra bruxaria condena qualquer ato que incomode o clero.
Rui abraça a mulher e com determinação a faz ficar em pé, junto dele. Seu pensamento traz a oferta de compra de suas terras, pelo capelão, que fôra negada, há pouco tempo atrás.
-Arruma tuas coisas e das crianças, enquanto junto as minhas. Pega o necessário, enquanto preparo a carroça e alimento os cavalos.
-Rui, pelo amor de Deus, o que vamos fazer?
-O único jeito é fugirmos. Quando eles voltarem aqui, não podem nos encontrar, ou te levam e nunca mais nos veremos, tu sabes disso.
Ele passa as mãos calejadas de trabalhar na terra,fazendo um carinho no rosto de sua mulher.Seu olhar é decidido.
-Vamos Isabel, apressa-te. Temos algumas horas a nosso favor.
A hora seguinte é de correria. Em momentos rápidos, ela abre o postigo da janela espiando a estrada, em pânico. Seu medo é ver o capelão chegar com a guarda para prendê-la. No que a carroça está carregada, Rui coloca uma manta grossa para proteger Isabel e as crianças que sem entender nada, ainda fracos pela febre do dia anterior, se aconchegam no colo da mãe e adormecem. No céu, nuvens negras que parecem ter surgido do nada, encobrem o sol. Mas graças à Deus, não chove! Sem olhar para trás, Rui grita com os dois cavalos e a carroça parte. Isabel olha com tristeza o lugar onde nasceram seus filhos e fôra tão feliz! Ainda custa a acreditar... bruxa ela, imagina só! Aperta com fervor a imagem de sua Santa protetora que trouxe junto, reza baixinho uma Ave Maria, pedindo à Nossa Senhora proteção para sua família, que vive este tormento. O céu cinzento não deixa identificar as horas. Pela claridade ainda é dia. A carroça continua seu trote cadenciado, das patas dos cavalos. Isabel observa o rosto desfigurado de seu marido...
-Marido vem descansar um pouco, eu conduzo a carroça...
-Falta pouco logo chegamos na outra vila e pegamos o navio!
A voz cansada, mas audível de Rui, provoca inquietação em sua esposa.
-Para onde iremos, meu marido? Por que navio?
-Vamos para uma terra nova, o nome é Brasil! Ficar aqui em Portugal é impossível. Nós conhecemos Dom Domingos muito bem! Ele é implacável, não desiste. Quantas famílias ele já destruiu.
-Mas onde fica esta terra, Brasil?
-Muito longe daqui, além mar, o suficiente para ele nos esquecer.
-E nossa casa, os bichos, minhas ervas, a terra?
-Ora mulher, bem sabes, a terra é de meu pai, o capelão não poderá tirar dele. Vou deixar uma carta para meu pai, explicando que sentimos vontade de aventurar e buscar riquezas em novas terras! E se Deus quiser, um dia voltaremos!
O olhar decidido de seu marido enternece Isabel. O medo se aquieta um pouco e a angústia abandona por instantes seu coração. Rui para a carroça, as crianças acordaram e sentem fome. Felizes com a recuperação dos dois filhos, os pais os alimentam com pão,salame e queijo. Bebem água de uma fonte que corre abundante onde eles pararam. Saciada a pequena família, Rui se acomoda na carroça com os filhos. Isabel aconchega o xale no pescoço e com firmeza pega as rédeas incitando os dois cavalos .
-Eia, eia!
Eles obedecem dóceis, ao comando firme desta mulher retomando o trote!
_Brasil, um mundo novo! Brasil que Nossa Senhora nos leve até a ti, em segurança!
Com estas palavras ditas com coragem, dirige a carroça para o porto!
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