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domingo, 29 de julho de 2012
A saga de Jacira cap IV
A água da cachoeira, cai forte sobre o corpo escultural da índia Jacira. O sol no céu, está alto. O calor escaldante da tarde, faz com que a jovem mulher, interrompa seus afazeres, para refrescar seu corpo na água fria e cristalina do rio. Na margem o arco e as flechas estão displicentemente largados.Ela está longe de sua tribo. Desde menina, vem sendo preparada pelo pajé e pelas velhas índias no segredo da magia ritualística de seu povo. Segue a tradição de seus ancestrais, curandeiros da tribo. Hoje é sua vez de assumir esta responsabilidade passada de uma geração para a outra! Construir sua oca longe da tribo, sobreviver com a caça, aprender a ouvir o silêncio da noite. Vem fazendo isso há doze luas cheias! Tempo que diz que ela pode voltar! Como foi importante este tempo de recolhimento! Sente-se forte, com energia, e ao mesmo tempo pequena perante a imensidão deste céu. Está pronta para voltar e assumir com as velhas xamãs, seu lugar de direito! Mergulha o belo corpo nú, deliciada com o prazer que sente, neste momento. Ao voltar à tona, pressente o perigo...algo diferente se aproxima de onde ela está. Ouve risadas e vozes humanas, não consegue entender o que dizem. Seu olhar procura uma moita, na margem do rio, onde possa se esconder. Em vão. O que vê são suas armas, lá , sem a minima chance de serem alcançadas. Os vultos tomam forma, alguns homens de pele branca, diferente de qualquer homem que ela conheça, acenam para ela, dizendo coisas incomprensíveis. Eles vestem panos, que cobrem todo o corpo, a cabeça também é coberta. Logo, dois deles, tiram a roupa e entram na água. Seu instinto avisa que está em perigo. Como um animal acuado, procura desesperada chegar na outra margem, em vão, eles a alcançam e a puxam para fora da água. Ela grita, esperneia, se debate arranhando o corpo nas pedras roladas escuras, da beira do rio. Sente as mãos dos homens tocarem seu corpo nú, ávidas. São áspareas, grosseiras e machucam muito. Um deles a levanta pelas axilas, e cheira seu ventre com grunhidos de um porco do mato, então joga-a no chão. Meia tonta, tenta fechar as pernas, mas os dois que haviam entrado na água, não deixam. O olhar deles invade cada pedacinho do corpo da jovem índia. Um deles que parece ser o chefe, se aproxima. baixa as calças e penetra a mulher indefesa, com gemidos de prazer. O grito de Jacira se mistura ao gozo do homem branco ao entender que estava tirando a virgindade dela. Indiferentes aos gritos que ela lançava, como uma pantera ferida,os outros, um a um cometem a mesma vilania, como animais no cio, sem o menor escrúpulo. Ela perde a noção do tempo... já não grita, seus olhos parados, fitam a copa das árvores, seu corpo não sente mais nada. Assim deve ser a morte, sem sensação, ela neste momento deseja morrer. Seus sonhos, sua pureza, até então guardada para seu homem, já não mais importa. Nem Tupã o sol, nem Jaci a lua, podem fazer qualquer coisa por ela. As lágrimas quentes que enfim rolam em seu rosto, são o choro de Iara a deusa das águas, que impotente assiste ao sofrimento de sua filha. Eles enfim se afastam saciados, aos risos. Ajustam suas capas brancas onde uma cruz vermelha se destaca n frente e nas costas. Indiferentes ao estado da índia, vão embora sem olhar para trás. Machucada em seu corpo, violentada em todo seu ser, ela se arrasta até a água onde deixa o corpo afundar, pedindo que Iara a leve consigo para onde a água nasce. Sente que vai perdendo os sentidos, debaixo da água.Sente a abençoada escuridão chegando... Mas o instinto natural de sobrevivência faz seu corpo voltar à tona! Um grito semelhante ao urro selvagem de uma onça ferida, sai de sua gargante de seu útero de sua alma. As mãos buscam com sofreguidão o barro do fundo do rio, esfrega o corpo com desespero, querendo tirar a marca suja da violência de dentro dela. Em vão. Se afasta com dificuldade da cachoeira, ali já não é mais sagrado, tudo ali fôra profanado. Consegue chegar na oca onde passara as últimas doze luas. Chora baixinho, cobre o corpo doído com a manta que ganhara de sua avó e desfalece num sono profundo.
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