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segunda-feira, 30 de julho de 2012
Seguindo a trilha Cap V
Igual à pantera, as narinas de Nakeba se dilatam, para identificar os cheiros ao redor. Um cheiro dirá qual o caminho que deve ser seguido. O sol lança seus raios sobre a africana, neste pedaço da Terra! Encontra o cheiro, "cheiro do mar" que retesa os músculos de todo o corpo. Atenta pressente que foi para lá, que seus irmãos foram levados. E tal qual a pantera seu animal-totem, inicia a caminhada com pisadas firmes e rápidas! Dois dias se passam. Seguindo o faro, ela é guiada pela selva africana. Passa por aldeias que vivem a mesma dor que a sua, deixada para trás. Velhos e crianças, mulheres com o olhar vazio contando a mesma história : a saudade de seus homens levados para longe, à força! Seu instinto diz que ela está cada vez mais perto e o cheiro do perigo no ar alerta que aqueles homens maus estão por perto. O cheiro no ar de pólvora queimada, trazido pelo vento alerta Nakeba. Sente que seus Orixás estão consigo. Ouve gritos de dor, protesto, choro... então os vê! Escondida na ramagem, presencia a covardia daqueles malfeitores. Homens e mulheres negros, estão acorrentados uns aos outros. Os que se rebelam, o açoite sem dó bate em seus corpos. No chão estão dois corpos mortos a tiros. Atenta, controla sua fúria, esperando a noite chegar. Mas eles conduzem pela trilha o grande número de prisioneiros, até o dia clarear, sem descanso. Como uma sombra, ela os segue. Durante tres dias, ela aguenta ver aquele terror,cada um dos homens possui armas que expelem fogo. Sua lança, o arco e flecha, não dariam conta sequer de alguns, são muitos. O cheiro do mar vai ficando cada vez mais forte! Quando ele surge imponente, é noite! O barulho das ondas tem um som que ela nunca ouvira. Afastada do grupo, por instantes, sente mêdo, estarão seus irmãos próximos dali? Exaustos os prisioneiros dormem. Os homens brancos descansam e a guarda é afrouxada. O momento esperado pacientemente por Nakeba enfim chega, é agora! Usando seu poder mágico, chama a irmã serpente para protegê-la. Sentindo sua pele se transformar, ela se arrasta e se junta ao grupo preso às correntes. Agora ela faz parte do grupo, Sente as corrente envolverem seus pulsos. Exausta, se entrega ao destino junto aos seus irmãos de infortúnio. O dia clareia. Um dos homens vem acordar os negros. Ainda meio sonolento, ele esfrega os olhos, revisa as correntes soltando palavrões. Como animais, são conduzidos até um grande barco, ela nem imagina pudesse existir algo tão grande! Um pano grande enorme com uma cruz vermelha está sobre a cabeça de todos. Logo ela vai aprender que se chama vela, amarrada ao mastro. Começa então o calvário de Nakeba que, junto com os outros prisioneiros é jogada no porão , ela não pode se despedir de sua amada África! E neste instante a fragilidade da mulher, toma conta de seu corpo, grossas lágrimas deslizam em seu rosto. Une as mãos, ainda acorrentadas de encontro ao peito, num ato de sublimação e humildade. O balanço da caravela diz que a viagem tem início.
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