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quinta-feira, 26 de julho de 2012
A saga de Nakeba Cap II
O tempo se arrasta, lento , muito lento para Nakeba e seu povo. A alegria até então vivida por sua tribo fôra abruptamente cortada! Seus irmãos, homens fortes e jovens, foram arrancados e levados à força, para muito longe dali. Os velhos, as mulheres e as crianças retornaram aos poucos, feridos, desesperançados à rotina. Agora seus olhos estão tristes e o sorriso, antes tão aberto é raro em seus rostos. Exatas seis Luas cheias se passaram desde aquele dia maldito. Em vão ela tentara, acendendo o fogo sagrado, encontrar o caminho que seus irmãos seguiram, para ir atrás deles. tentar salvá-los. Mas nas chamas desprendidas do fogo, a única imagem que aparece, são olhares assustados, acuados, como animais enjaulados. Por isso decidira nesta noite, com a Lua cheia fechando os seis meses ,reunir as anciãs da tribo e com a fôrça de todas elas, poder enxergar mais longe. O céu, cheio de estrelas, palpita vida! A aldeia dorme. Uma a uma, as anciãs vêm chegando, a sétima completa o grupo. Com Nakeba, são oito. Cada uma delas trás desenhado em sua testa a estrela, na cor negra usada apenas por mulheres da tribo com grande conhecimento de magia. Duas são amparadas pelas demais, são tão velhas, que a dificuldade em andar precisa que as outras ajudem. O cajado que cada uma segura e serve de apoio, tem na ponta uma serpente e uma coruja respectivamente. Os mantos que cobrem os corpos das mulheres, feito de penas de pássaros, é multicolorido, menos os das duas velhas com os cajados. O de uma é negro e da outra é branco. Elas são acomodadas em dois troncos de árvore entalhados e forrados com peles de animais. Enfim, todas estão sentadas, ao redor da fogueira que a princesa Nakeba acendera antes do sol se por. A um gesto, da que usa o manto negro, todas começam a respirar ruidosamente, cantam a canção que chama os espíritos de seus ancestrais.A de manto branco ímita o grito de uma águia, seguido por todas. Cada uma emite o som de um pássaro, buscando seu poder xamãnico. Não demora muito tempo, para a selva responder... logo o som gutural produzido pelas mulheres, se mistura ao som de todos os animais ao redor. O som é ensurdecedor! Isso dura poucos minutos. É então que a selva subitamente, silencia! Ouve-se tão sómente o som proferido pelas mulheres, uma nota só, arfante. Uma a uma, vão silenciando. Ouve-se agora, o gemido da anciã de preto e a respiração pesada da de branco, que se tornam quase inaudíveis. Um torpor invade as mulheres, conforme a intensidade do som que diminui, mais leve, mais baixinho, até o silêncio que é quase absoluto, neste instante. Nakeba pressente a chegada das águias. O vôo baixo das oito águias, quase toca suas cabeças. Voam em círculos, com gritos estridentes. Ela ergue os braços acima de sua cabeça, buscando sua águia de poder! Sente seu corpo ser projetado para cima e sendo agora a águia, sua consciência voa, acima da tribo, acima das árvores, buscando uma direção. As enormes asas sustentam seu corpo forte, sem medo, determinada em encontrar seus irmãos, ela voa. Atravessa o chão sagrado, onde os velhos são enterrados, atravessa a mata densa, onde trilhas estreitas são encobertas pelas árvores. A voz da africana chamando os irmãos, sai em gritos estridentes. O pequeno coração bate acelerado, seguindo uma trilha, só percebida por elas, águias. O local é estranho, muitos dias de caminhada, dá no mar. Seus olhos como um radar, observam cada detalhe. Telhados escuros, latidos de cães,uma clareira onde em um tronco de árvore, um homem negro está amarrado. Dá para ver o sangue coagulado em suas costas marcadas com cortes profundos abertos. Uma nuvem de dor e angústia encobre o local, não permitindo que ela veja mais nada. Brutalmente a consciência dela é puxada de volta, as duas anciãs estão de pé, esvoaçando seus mantos negro e branco, fazendo com que o som das penas e traga de volta em segurança; as cinzas mostram que ela ficou algumas horas fora dali. Nakeba saúda curvando o corpo, a águia que, soltando um grito vai embora. A maioria das mulheres dormem enroladas em seus mantos. Uma tem os olhos abertos, mas sua mente está longe dali. Nakeba, a princesa guerreira desta tribo, se ajoelha em frente as duas mulheres mais velhas. Em silêncio, as duas a observam, mas atentas a qualquer outro movimento ao redor. A do manto branco pega a mão esquerda da jovem africana e coloca sobre seu coração. A do manto negro pega a mão da direita e coloca sobre sua cabeça. Elas falam então, juntas... O coração te dará o caminho! A razão guiará teus passos! Vai filha do nosso coração. Em seguida batem palmas, chamando a atenção de todas, para encerrar o ritual. Cada uma pega um punhado generoso das cinzas que está fria, e coloca dentro de um saco que cada uma tem, amarrado à cintura. As duas anciãs saudam os deuses da natureza em um canto que é repetido por todas. O céu começa a clarear, é dia novamente na África! Nakeba entra onde crescera com seus irmãos, junta algumas poucas coisas, que amarra em um pano. Coloca no pescoço seu patuá feito de penas de águia e dentes de pantera. Seu coração está apertado. Abre os braços, querendo colocar cada pedacinho dele seu lar, no coração.Já sentindo saudades, pressente que não vai retornar. Os olhos buscam nos recantos, imagens para recordar. Envolve seu velho pai numa onda de carinho, abençoa os sobrinhos , filhos de seus irmãos capturados. Sai sem fazer ruído. Sabe que as anciãs explicarão sua saída, cuidarão de seu pai.Respira fundo, tenta controlar a dor que dilacera seu corpo e enquanto se afasta da aldeia, chama o espírito de sua mãe, para estar com ela neste momento em que ela se torna mulher. Está absolutamente só no mundo! A esperança de encontrar seus irmãos é a única luz que norteia sua vida e sua alma roga aos deuses que aquele homem morto, amarrado no tronco, não seja um de seus irmãos.
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