Quando eu era ainda criança, seis anos de idade, mais ou menos...
Uma vez por ano, vinhamos à Porto Alegre de onibus, a mãe e nós filhas. A viagem era muito demorada, afinal Marau ficava bem longe da capital! Minha mãe, quem a conhece sabe, é extremamente comunicativa, seu codinome é Dada, ela conversa com todo mundo!
Em todas as viagens que fizemos, eu disse todas, foram muitas, quando o onibus parava para o lanche,começava o pesadelo!
Dada descia com todas nós (quatro filhas) nos levava até o banheiro,para fazermos xixi, nos colocava sentadas de volta no onibus e voltava ao restaurante para aquecer as mamadeiras das minhas irmãs menores.
O pesadelo começava quando eu e minha irmã mais velha, víamos o motorista sentar em seu lugar, no onibus, buzinar e ligar o motor...
Minha irmã mais velha na janela, aos gritos, chamava por nossa mãe, eu aos prantos gritava falava para as pessoas ao nosso redor, já bem acomodadas, que a mãe não subira.
Pronto, caos instaurado, todas as mulheres do onibus, faziam aquele escarcéu, umas iam ao motorista, enfim drama total!
... E lá aparecia a dona Dada, com as mamadeiras e lanches nas mãos, dando tchau para a cozinheira da lancheria!
Vinha toda sorridente, feliz, acreditas, como se o desespero geral não fosse consequência de sua atitude. Se desculpava com um sorriso, com todo mundo, já cativando a todos enquanto distribuia entre nós as mamadeiras quentinhas e o lanche!
Na segunda viagem que esta situação estava se repetindo, lá dos fundos do onibus, veio uma jovem mulher que pegou em minha mão e dizia para eu ter calma, que tudo ia dar certo!
Fiquei calmíssima quando ela pegou minha mão, deu tudo certo a partir de então. Elá só aparecia nas viagens de onibus. Em uma delas, conversamos muito, ela se chamava Chiquinha, durante a viagem eu e minha irmã mais velha, sentávamos nos bancos dos fundos, do onibus e enquanto minha irmã olhava para fora, eu conversava com ela! Ela ria muito, me fazia rir e dizia que era minha babá de viagem!!!!
Quando Dada voltava com o lanche, pastéis fritos de carne e café preto para ela, que nós as mais velhas, bebiamos juntas, Chiquinha dizia adorar aquele lanche.Ela pedia para eu comer bem devagar e saborear bem!
O tempo passou! Muitos, muitos anos depois, já mãe de quatro filhos, fui desenvolver a mediunidade na Umbanda! Quando no rodar, para deixar a entidade vir, na linha dos Pretos Velhos, eu a reencontrei!
Mais velha, um tanto encurvada, e se chamava então Mãe Chica! Eu logo soube que era ela, porque ela deixou pedido para na sessão seguinte, eu levar pastel frito de carne e café preto, que iria ter a festa do dia treze de maio!
De novo, por muito tempo, caminhamos juntas! Saí da Umbanda, quinze anos depois! A partir daí, de vez em quando, sinto uma vontade enorme de algo e faço, é óbvio. Vou até a rodoviária de Porto Alegre, sento na lancheria e peço uma xícara de café preto e um pastel frito de carne. E sou tremendamente feliz, saboreando aos pouquinhos este lanche. Els sorriem para mim, sinto que também sentem saudades!
Volto para casa, e a vida continua por mais um tempo, até que eu sinta saudades da Chiquinha e da Mãe Chica, então saberás onde me encontrar!
Tenhas um lindo dia! Bom fim de semana, descansa bem e aproveita, quem sabe fazer um lanchinho na rodoviária? Talvez nos encontres por lá!
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